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Que legado cada um deixa nesta vida?

Quando alguém morre, não leva absolutamente nada consigo. A questão é: quanto deixa? Não me refiro a bens materiais, que são apenas coisas. Falo, sim, daquilo que é a herança de valores, que permite dar continuidade ao belo e ao bem da vida. De uma marca. Daquilo a que chamamos legado.

Há quem diga que devemos viver como queremos ser lembrados. Não creio que esta deva ser uma preocupação nem uma condição de vida, principalmente se vivermos de acordo com a nossa verdade, de forma natural e autêntica. Esta, sim, a verdadeira herança que podemos deixar a quem se cruza no nosso caminho: aquilo que mais nos caracteriza e que a cada um toca. Aquilo por que alguém tem sempre algo a dizer…

Se escolhermos dar o melhor de nós em tudo o que fazemos e nos apoiar na nossa verdade para abraçarmos todas as frentes da vida: na alegria, na tristeza, na bondade, no sofrimento, na partilha, na entrega, na gratidão e no amor, acredito que, naturalmente, vamos deixando pegadas inspiradoras e com seguidores, sob a forma de legado. Porém, tocar no outro sendo nós próprios é tão-somente uma escolha individual, só nossa. E quantas pessoas estão dispostas a isso? Quantas pessoas optam pela liberdade de serem elas mesmas? Quantas pessoas estão ao serviço da sua essência e da sua singularidade? Quantas pessoas estão dispostas a ver e a usufruir do seu potencial como seres humanos? Ao invés disso, quantas pessoas se deixam deslumbrar e iludir pelas fantasias da vida?

Para mim, descobrir a nossa potencialidade e pô-la ao serviço da nossa vivência é uma escolha individual. Uma escolha cuja consequência é o legado de cada um de nós. A nossa marca. Não um testamento qualquer, mas aquilo que nos define e torna únicos. Livres e felizes. Até porque ninguém é igual a ninguém, senão igual a si mesmo. A questão é escolhermos viver de acordo com o nosso potencial…

Recentemente, dei por mim a perguntar-me: se eu morresse qual seria o meu legado? Fiz esta pergunta a meia dúzia de amigos, e todos responderam-me basicamente o mesmo: a gargalhada. Confesso que fiquei intrigada. A gargalhada? Mas eu sou uma piada? Sou apenas uma gargalhada? Voltei então a perguntar: e se tirarmos a gargalhada, o que é que fica mais? Outra amiga respondeu-me: a gargalhada. Fiquei a pensar naquilo e continuei esta conversa com outra amiga, que me disse o seguinte: pensa no que a tua gargalhada representa, no que ela transmite e contagia... A tua gargalhada tem tudo. Oiço a tua gargalhada e vejo-te por dentro e no efeito que provocas nos outros. Pensa no que a tua gargalhada deixa nos outros…

Admito que ainda estou um pouco perplexa, pois não via a minha gargalhada como uma marca. Contudo, depois tento despir-me de todas as camadas e acredito que a gargalhada representa a minha essência, de onde brota a minha força de viver. E o que é a força de viver, senão tudo? Quero acreditar que na minha gargalhada está uma pessoa boa, honesta e íntegra e que, sempre que a solto, seja um pouco melhor e consiga melhorar a existência de alguém. Espero que a minha gargalhada seja uma porta de entrada e de saída de boa energia e de algo positivo. Não sei se estou a pensar bem, mas estou a dar o melhor que sei e posso. Acima de tudo, em consciência, em verdade, em simplicidade e em liberdade. Naquilo que eu sou, sem esforço.

O poema de Eugénio de Andrade, “o sorriso”, diz assim: “Creio que foi o sorriso, o sorriso foi quem abriu a porta. Era um sorriso com muita luz lá dentro, apetecia entrar nele, tirar a roupa, ficar nu dentro daquele sorriso. Correr, navegar, morrer naquele sorriso.” E é curioso que dediquei este poema ao meu pai quando ele morreu. O meu pai, pelos vistos, passou-me este legado e amplificou-o em gargalhada. Só posso sentir uma gratidão imensa.

E quem me lê, que legado está a deixar?

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