“Out of the box” é o que me chamam

Comentam o meu vocabulário, demasiado enriquecido para os êxitos ingleses que ouvem nos intervalos. Falam da velocidade com que falo e do que digo. São risos escondidos, quando me vêem a falar sozinha, quando no momento não existe ninguém naquele local com quem possa partilhar o meu pensamento.

Referem o meu sistema nervoso, a minha pressa e velocidade de correr contra o tempo. Dizem que sou uma stressada de primeira, mas contradizem-se, quando afirmam que comigo é tudo a horas.

Acham sinceramente que sou organizada, porém, pensam que sou uma baldas pelas minhas notas só escreverem metade do que a tinta da minha caneta permite.

Dizem que tenho sonhos estranhos, pouco realistas. Parvos. Que ir ver as suas interpretações é ridículo e riem-se. Chegam-me a dizer que sou da família das pedras. Pedrada, mais precisamente.

Pedem-me às 8h para contar histórias, mal sabem que são reais e vividas por mim todos os dias.

Acham estranho, quando saco do meu ovo cozido a meio da manhã e averiguam as calorias do croissant semanal que como para ver se os aguento até as 13:30.

Sou a última a sair do comboio e a primeira a entrar, ouço a história de todos. Todos os dias. E quantas vezes me riu e acho pouco criativo, mas, lá está, eu é que sou a estranha que sonha que faz frequências com pincéis e tintas.

Tenho piada e consigo falar com qualquer indivíduo que se enquadre, isto se eu estiver com disposição de pegar na bomba das revistas cor de rosa, no novo jogo que saiu, no exercício que não consegui resolver em casa ou no momento esquisito que aconteceu na aula. No entanto, se quiser falar de coisas que ninguém pensa, mas que me passaram na cabeça, se quiser ser mais eu do que o mundo, se quiser rir de boca aberta e explodir de lágrimas com duração de uma hora sem razão aparente que conduzem a um ataque de riso posterior aí, tenho de esperar que o comboio me leve à minha paragem.

Eles, no geral, ninguém em particular, acham que por não ser banal, estou mal.

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