No dia 25 de Abril de 2015 dois amigos estavam de visita ao Nepal, quando se deu um violento sismo. As consequências foram devastadoras. Uma destruição enorme, aldeias devastadas e inúmeras pessoas desalojadas, cerca de 3 milhões, sem contar com aqueles que, infelizmente, faleceram, 7600 pessoas. Como qualquer turista, a viajem tinha um propósito de lazer e este país é mágico, é o símbolo ancestral de algo de maravilhoso, de encontro de culturas e de misticismo. Grande parte dos monumentos ficaram destruídos, o que é dramático para um país que vive à base do turismo. Contudo as mazelas maiores foram a nível humano: milhares de pessoas sem local para ficar e uma vida sem futuro que se avizinhava negra. O tremor de terra foi muito violento, de magnitude 7.8 e os turistas, muitos, esperavam ansiosamente, no aeroporto, por regressar aos seus locais seguros e esquecer a terrível experiência que viveram. Tudo se organizou no meio do caos, mas estes dois amigos decidiram ficar. É nos momentos complicados, aqueles que nunca pensamos que nos possam acontecer, que a vida aparece, inteira, a segredar-nos o caminho. Ficaram e entenderam que uma estrada se abria à sua frente, nova e chamativa, esburacada, mas exequível.
A sua permanência foi uma prova de resistência, algo que lhes fez ver que os limites não existem, somos nós que os imaginamos e só sabemos onde conseguimos chegar quando somos desafiados. A sua bagagem era escassa, o suficiente para o que tinham estipulado no início e a disponibilidade económica relativa. Relativa é a palavra correcta, porque aquilo que para uns é pouco para outros é muito. Disponibilizaram-se para tudo, arregaçaram as mangas e começaram a trabalhar. Do seu fundo de maneiro saiu muito sustento para tantos! esqueceram-se de si, lutaram pelos outros. Só me ocorre Camões para os epitetar: “… que outro valor mais alto se alevanta…”. A língua deixou de ser um impedimento e as relações estreitaram-se. Criou-se um elo tão forte que nunca mais foi quebrado. A diáspora continua no sangue, mas agora solidária, humana e incondicional.
Através do facebook do Pedro Queirós e do Lourenço Macedo Santos, ficámos alertados para a gravidade da situação. É lançado um apelo, quase desesperado: …” Ajudem. Só com o auxílio de todos será possível salvas estas pessoas, ajudar a reconstruir este local belíssimo, a dar uma vida normal a estas crianças maravilhosas que, apesar da tragédia, continuam a sorrir e a nos agarrar e abraçar com sinceridade…” Foi assim que os conheci. E publicavam fotos, documentavam o dia-a-dia naquele local do mundo, no tecto do infortúnio. as pessoas começaram a colaborar enviando donativos, mesmo parcos, mas que faziam toda a diferença. Um euro dava para alimentar muitas pessoas. Eles não tinham nada! Não pude ficar indiferente e juntei o máximo possível, com a ajuda de todos os que quiseram colaborar. Enviei dinheiro ma esperança de ser útil. Sei que foi porque eles se tornaram uns excelentes gestores, conseguindo preços sociais que equilibravam a vida naquelas alturas. O que mais me tocou foi a história da filha de uns amigos deles que pediu aos pais para dar o dinheiro que tinha no mealheiro, ao tio Pedro que precisava de ajudar os meninos que estavam longe. Crianças com altos valores, pais esclarecidos e atitudes que permitem pensar que iremos ter adultos fortes, determinados e atentos.
Rapidamente chegam voluntários de todos os pontos do mundo, preparados para ajudar no que for necessário. Conheço a Mariana Delgado e o Nico Castanheira. decididos e fortes. Fizeram a diferença. A vida vai surgindo, renascendo aos poucos. São improvisados abrigos, há que alojar aquele número elevado de pessoas que ficou sem nada, mas continua a sorrir. São esperançosos. São lições de vida que vamos aprendendo sempre. Queixamo-nos sem motivo, está visto que sim. Quem sofre na pele estas situações levanta a cabeça, olha em frente e continua a viver. Os donativos continuam, de valores mínimos a valores mais consideráveis. Ninguém duvida deles. A obra está à vista. Não buscam nada para si é para outrem, um altruísmo que muitos desconhecem e que, felizmente está vivo e de boa saúde. Reorganizam as suas vidas. Agora as prioridades são outras. Diferentes. Estabelecem-se novas amizades, continuam a chegar voluntários e do nada se faz tudo.
É criado o Campo Esperança, local para acolher os desalojados, onde se sintam confortáveis, com condições para voltar a uma vida normal e retomar as suas rotinas. Há aprendizagens de parte a parte. Uns ensinam aos outros e todos trabalham em conjunto, em prol duma comunidade, do bem-estar de muitos. O Banco, através do qual são efectuadas as transferências, participa nesta iniciativa com uma quantia considerável. as coisas encaminham-se. As crianças sorriem e nomes conhecidos aparecem para dar uma “maõzinha”, para continuar o que, afinal, foi tão fácil iniciar. bastou o olhar, a vivência, a boa vontade e a excelente formação destes jovens que não viraram costas a um desafio gigantesco.
Apoio-os desde o início e nunca deixarei de o fazer. Enviei donativos, mas penso que o mais importante é o apoio moral, as mensagens de incentivo e de agradecimento. Sinto-me grata por saber da sua existência, acompanhar o seu trabalho e por os considerar seres grandes, modelos a seguir. São os meus amigos do Nepal. neste momento funcionam como Associação Obrigado Portugal. Está oficializado, mas o trabalho não acabou, ainda agora está no início. A sua labuta é diária, mas estão tranquilos porque tudo está encaminhado no sentido de minorar o sofrimento de todas aquelas pessoas, sobretudo, as “pessoinhas”, os mais jovens, o futuro. O Campo Esperança é o local onde estão a ser reconstruídas 222 casas, 1 escola e 1 centro de saúde. Para eles nada é impossível, porque estão animados de boa vontade e de esperança, o Camp Hope, que eles criaram. E é tão fácil ajudar, participar neste projecto grandioso e único. Façam-no através da página do facebook, como o nome da associação e divulguem, passem a palavra.
Para terminar só quero deixar aqui um apontamento que considero maravilhoso e que demonstra a tenacidade destes jovens, vista pelos olhos dos meninos nepaleses. Quando lhes perguntam o que querem ser quando forem grandes não respondem nem médicos, nem engenheiros nem nenhuma outra profissão conhecida ou prestigiante. Querem ser portugueses porque os portugueses sabem fazer tudo.