“Como sociedade, levamos a liberdade de expressão muito a sério e, por isso, temos a tendência de dar opinião sobre tudo o que vemos e ouvimos. Será que temos de ter opinião sobre tudo? Quando é melhor parar e simplesmente ouvir?”
A princípio, pensei ser estranho, ou, pelo menos, contraditório escrever sobre este tema, precisamente por estar a opinar sobre a tendência de opinar.
No meu ponto de vista, penso ser muito natural termos opiniões principalmente acerca de temas que nos interessam ou que dominamos. É da diversidade de pontos de vista que muitas vezes nascem grandes ideias e grandes soluções. Se todos tivéssemos a mesma maneira de pensar e, por conseguinte, opiniões idênticas, viveríamos num marasmo.
Mesmo quando não se entende muito sobre um tema, pode ter-se, de igual modo, uma opinião. Por vezes a simplicidade com que se olha para certos assuntos, dota-os de um certo pragmatismo.
Ter uma opinião formada, ajuda-nos a fazer escolhas, a tomar decisões, a fazer distinções. Por seu turno, o oposto, ou seja, não ter uma opinião, torna-nos vulneráveis e mais facilmente influenciáveis.
No entanto, ter uma opinião acerca de algo nem sempre significa verbalizá-la. Uma opinião deve ser dada, quando a mesma nos é solicitada, e, ainda assim, as palavras devem ser escolhidas a preceito de modo a não ferir susceptibilidades. Se o que dissermos não for dito de um modo construtivo, mais vale nem dizer, pois correremos o risco de ser mal interpretados.
E é precisamente aqui, neste ponto, onde “opinião” colide com “liberdade de expressão”. Vivemos em democracia e, por conseguinte, podemos expressar-nos livremente. Porém, ao fazê-lo, e reiterando a ideia que acima expus, devemos fazê-lo com educação, com civismo, de modo a que a nossa liberdade não interfira na a liberdade dos nossos pares.
Ora isto não é, definitivamente, aquilo que se passa hoje em dia, neste mundo repleto de egoísmo, intolerância, falta de educação e falta de civismo.
Nos dias de hoje, as opiniões são emitidas com ódio, com o intuito de provocar e até de ferir e/ou insultar.
O que mais choca é que, na grande maioria das vezes, toda esta verbalização não é feita olhos nos olhos, mas sim através das redes sociais, onde algumas pessoas dizem o que lhes dá na real gana, sem se preocuparem com as consequências dos seus actos só porque se sentem protegidas/escondidas atrás de um ecrã, chegando inclusivamente a usar falsas identidades para assim poderem espalhar mais e melhor toda aquela verborreia incendiária.
Gosto de pensar que, e no sentido de querer continuar a acreditar que ainda há esperança para a humanidade, essas pessoas ignorante e inocentemente, confundem liberdade de expressão com liberdade de pensamento. Porque pensar, podemos pensar o que quisermos. O pensamento é só nosso. Temos é que ter uma grande capacidade para escolher entre o que fica guardado no nosso cérebro a sete chaves e o que devemos/podemos verbalizar.
Também sei, e por experiência própria, que, perante injustiças, a vontade é mesmo de dizer tudo o que nos vai na alma. E correr esse risco, de expor tudo o que nos aprouver, é não só revigorante como libertador.
Ter o arrojo de dizer o que se pensa é um acto dotado até de um certo exorcismo.
Caso para dizer, “opinar ou não opinar, eis a questão”. Terá, portanto, que ficar ao critério de cada um se deve ou não opinar e quando, desde que estejamos cientes do que podemos desencadear e, acima de tudo, desde que estejamos preparados para lidar com as consequências.