O ano é 1963, e o dia é 22 de Março. Quem faz a espirituosa contagem decrescente é Paul McCartney, que faz assim a introdução para um dos pontos mais vitais da carreira dos Beatles, e que desta forma se iniciam no lançamento de álbuns de estúdio. Não é, de todo, o mais mítico ou o mais celebrado dos 13 (sim, TREZE) álbuns que eles lançaram entre 1963 e 1970, mas é, para mim, o Anno Domini da música. No fundo, é o ponto zero para tudo o que agora conhecemos como música e, por essa razão, tudo agora é feito na Era d.B. (depois dos Beatles).
É de referir que com este álbum nasce também a melhor e mais bem-sucedida dupla criativa de sempre. John Lennon e Paul McCartney, cujos créditos se designam por Lennon/McCartney, escreveram, musicaram e creditaram quase 200 canções (quase todas gravadas enquanto Beatles), incluindo a música “Yesterday”, que é a música mais gravada de sempre segundo a Guinness World Records.
Voltando ao álbum, as gravações iniciaram-se no dia 11 de Fevereiro de 1963 nos estúdios Abbey Road e todas as canções foram gravadas nesse mesmo dia, em três sessões de gravação distintas que, ao todo, duraram menos de 10 horas. As gravações incluem a regravação de quatro canções que já tinham sido gravadas para lançamento de Singles: “Love Me Do”/”P.S. I Love You”, gravado no dia 11 de Setembro de 1962, e “Please Please Me”/”Ask Me Why”, gravado a 26 de Novembro do mesmo ano.
O resultado são 14 músicas gravadas como se de um autêntico concerto ao vivo se tratasse, o que muniu a banda de uma bagagem de palco imensa, que dá para notar perfeitamente no material ao vivo que está preservado até aos dias de hoje. É pouco mais de meia hora de completa musicalidade em velocidade apressada, que quer dar tudo agora antes que amanhã seja tarde demais e que não tem tempo a perder. Musicalidade que tem tando de cru, como na música “Chains”, como de doce, como em “Baby It’s You”. Até deu para Ringo, que à altura seria, provavelmente, o música mais conhecido dos quatro, brilhar com a sua voz.
Nos concertos de apresentação do disco, as dinâmicas da banda eram semelhantes às do estúdio: quatro olhares brilhantes, quase emocionados, mas compenetrados no que estava a ser feito, sorrisos de compromisso para com os companheiros de banda e muita rebeldia e ousadia à mistura: no concerto para a Rainha Isabel II, no dia 4 de Novembro de 1963, no Royal Variety, John Lennon introduziu a última música do álbum dizendo “para o nosso último número queria pedir-vos ajuda: às pessoas nos lugares baratos, que batam palmas; aos demais, apenas abanem as vossas jóias!” Vejam:
Para concluir, são, portanto, Paul, John, George e Ringo, quatro rapazinhos de cabelo cortado à tigela da sombria cidade portuária de Liverpool (e para ser justo, com a motivação e o toque de Midas do seu produtor George Martin, que até teclas tocou nas músicas “Misery” e na já citada “Baby It’s You”) que, através deste álbum apontam o caminho para o crescimento e reconhecimento público do Rock, e consequentemente de todos os subgéneros que dele advém e que reconhecemos até aos dias de hoje, e ainda bem. Mesmo não sendo a sua Magnum Opus, o maior e mais viçoso carvalho nasce da mais frágil e pequena bolota!
Pelos 58 anos: Parabéns, Please Please Me. Parabéns, Beatles.