Don’t Look Up (2021) – Crítica

I think, this whole administration, has completely. Lost. Their fucking mind! And I think. We’re all. Gonna die!

– Dr. Randall

Este filme conta a história de dois cientistas, Dr. Randall (Leonardo Dicaprio) e Kate (Jennifer Lawrence) que avistam um cometa que vai colidir com o planeta Terra e destruir toda a vida nela existente.

Um filme que se perde na imensidão do seu elenco e que apresenta uma visão demasiado política, satírica e que se acha mais engraçado do que o que verdadeiramente é. O filme não é mau e tem várias qualidades, no entanto, como um todo, resulta numa tentativa falhada de satirizar uma sociedade que já se satiriza a si própria todos os dias e que, por isso, não acrescenta nada.

Isto poderá ser uma visão muito pessoal, mas sinto que o realizador Adam McKay tem sempre este estilo de visão e realização, se assistirmos a filmes como “Vice” (2019) ou até mesmo “The Big Short” (2015), o que vemos é um realizador que se preocupa muito mais em passar uma mensagem política carregada com boas interpretações, deixando de lado o verdadeiro fator de ter uma história com arcos interessantes e um conteúdo que possa ser “mastigado” pelo espectador, e isto fica ainda mais notável pela duração aproximada de duas horas e meia. Para quem for adepto dos filmes que mencionei acima penso que irão adorar este filme, ainda assim não me encheu as medidas.

Todo o elenco é fantástico, mas isso era o previsto tendo em conta a passadeira de estrelas que aqui encontramos, e dou um especial realce a Meryl Streep no papel da irreverente Presidente dos Estados Unidos e Mark Rylance que elevam o filme no departamento da representação.

Alguns “cameos” são muito bem feitos e a forma como Ariana Grande e Timothée Chalamet dinamizam o filme é uma lufada de ar fresco.

Em resumo penso ser um filme com uma visão satírica para a realidade de hoje mas que usa isso como único “gancho” e sem ter um humor verdadeiramente efetivo nem um arco interessante para nenhuma das personagens que vemos no ecrã, focando apenas em dar o “sermão” ao espectador de olhar para a sociedade ao seu redor, como é hábito de McKay.

 

5/10

* CUIDADO COM SPOILERS *

O filme conta a história de dois cientistas que querem ser ouvidos pela imprensa mas que são “ridicularizados” por estarem a ser muito alarmistas, quando a presidente dos Estados Unidos da América começa a perder votos na sua campanha decide usar este cometa como uma catapulta para ganhar mais votos e, por outro lado, fazer esquecer o escândalo em que estava envolvida. Acho que o filme se perde muito nesta parte específica da trama, parece que tudo o que acontece é feito para fazer uma crítica à sociedade sem encaixar de forma natural na história.

A relação da personagem de Dicaprio com Cate Blanchett não encaixa bem na história e torna a própria personagem do Dr. Randall um tanto ao quanto mundana. A única personagem pela qual desenvolvi algum interesse foi Kate, não só pela interpretação de Lawrence, como pelo facto de ser a única que nunca parece vender os seus ideais e que parece ter uma “espécie” de arco, facilitada também pelo aparecimento de Yule (Timothée Chalamet) como seu interesse romântico. A dicotomia de “Look Up” “Don’t Look Up” que se refere ao cometa, e que metaforiza o “Ver a realidade” “Fingir não ver a realidade” resulta razoavelmente bem e também funciona para dar o título ao filme.

O final embora algo prevísivel é muito bem realizado e foi das minhas partes favoritas, principalmente graças a uma ótima entrega de Dicaprio da última frase da película em que questiona “Nós tinhamos tudo não é? Se pensarmos bem” , um pouco a englobar a mensagem do filme (e muitas vezes proclamada pelo próprio Leonardo Dicaprio) de que temos que aproveitar o tempo que temos e não dar o planeta como garantido. Ainda assim não foi esta mensagem que salvou o filme de todas as falhas que considerei que existiram.

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