On The Rocks

Com direção de Sofia Coppola (de “Encontros e Desencontros”), “On The Rocks” traz Bill Murray (esse dispensa apresentações), Marlon Wayans (de “As Branquelas”) e Rashida Jones (de “The Office” e “A Rede Social) no elenco principal.

A história é baseada no resgate de relações de pai e filha e de um matrimónio em crise. Com muitos passeios por uma Nova York de privilégios onde até os policiais são de uma gentileza ímpar, o filme é linear e morno o tempo todo. Nem as vozes mudam de tom.

*** RESUMO E CRÍTICA ***

Laura (Rashida Jones) é uma escritora que vive um bloqueio criativo. É filha do endinheirado Felix (Bill Murray), e casada com o workaholic Dean (Marlon Wayans), com quem tem duas filhas.

Ela mora na ilha de Manhattan e sua vida é acompanhar de perto o desenvolvimento das filhas, levá-las a escola, às aula de ballet e de desenvolvimento infantil. Situações do cotidiano que Laura lida com muita tranquilidade e sem estresse. As meninas nem sequer dão trabalho a ela. Coisa de filme mesmo. 

Bom, o casamento com Dean não vive seus melhores dias. Ele está sempre trabalhando e viajando para alcançar o sucesso profissional, tem uma equipe que o venera, e uma parceria profissional com Fiona, mulher responsável por despertar desconfianças em Laura.

Felix é o pai rico, que vive viajando, mas quando está na cidade gosta de estar junto da filha e participar da vida dela. Mas fica muito envolvido quando escuta a desconfiança de Laura em relação ao marido. Diria até obcecado. 

Felix, então, convence Laura a entrar numa trama de investigação e perseguição a Dean, a fim de descobrirem qualquer coisa que o coloque em situação de traidor. Mas na verdade, está ali uma oportunidade do próprio Felix em tentar salvar a filha de um casamento ruim, uma imagem do que ele próprio foi como marido e pai. Um homem mulherengo, traidor e machista.

Aliás, o papel de Murray é muito bem desenhado na misoginia hipócrita desta sociedade em que o homem é sempre o paquerador, o conquistador, e que coloca a mulher em um papel subjugado, desvalorizado, como um copo descartável a ser utilizado. Dentre de muitas situações, mas em uma específica, o personagem de Murray chega a dizer “acho que estou ficando surdo. Escuto tudo claramente, menos vozes femininas. É o tom”. Machista nato, Felix está sempre se vangloriando de suas conquistas.

Influenciada pelo pai, Laura entra na trama, fica convencida e chega a viajar até o México para desmascarar Dean. Mas ele não está mais lá, porque voltou mais cedo pra casa para ficar com ela e as filhas.

E é neste momento que acontece o único embate entre Laura e Felix, e onde percebemos a relação de mágoa e decepção que Laura nutriu por ele durante a vida. Onde antes só haviam comentários como “patético”, em uma escala baixa de grave e agudo, aqui há uma elevação no tom, e Laura consegue se posicionar em relação a sua vida e ao pai.

Sofia Coppola mostra um mundo em que há classe na insatisfação e até nas situações do cotidiano: nos drinques em locais diferenciados, no café com a família no jardim, na cidade sem buzinas e sem trânsito caótico, onde o dinheiro, a classe e as aparências sobrepõem-se até mesmo às relações. É uma melancolia envolvida na penumbra, sem excitação e sem altos e baixos de pessoas comuns e verdadeiras. O filme é fake e chato, mas tem boas atuações e uma fotografia muito bem feita. Mas também é válido se você estiver em busca de analisar criticamente esse modo de vida. 

“On The Rocks” está disponível na Apple TV.

PS: este texto foi escrito seguindo as normas de português do Brasil.
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