Há relativamente pouco tempo, em jeito de balanço anual, foi publicado um estudo que concluía que os portugueses lêem, em média, menos de 2 livros por ano. Este número foi apresentado de forma negativa e alarmista. Embora partilhe da opinião que 2 livros num ano é pouco, não partilho de tão grande alarme fatal até porque quantidade nunca foi sinónimo de qualidade.
A leitura de um livro, seja ele qual for, é muito mais que a leitura em si. Ler um livro é uma experiência e sendo uma experiência é algo pessoal e intransmissível. Há livros que nos tocaram profundamente e que não tiveram qualquer tipo de impacto num outro leitor. Há livros com poucas páginas de tal forma intensos que a sua leitura exige demora e uma atenção redobrada, assim como há livros de 600 páginas que lemos em 4 dias porque a história é tão acelerada e envolvente que somos obrigados a acompanhar a velocidade. Existem livros de leitura académica que são apontados ao mesmo tempo que são lidos assim como livros de poesia que se “engolem” lentamente.
O universo literário é tão vasto e complexo que colocar-lhe um rótulo temporal acaba por ser redutor. Já demorei 6 meses a ler um livro assim como já li um livro num par de horas. A dinâmica da leitura não pode ser contabilizada e não se coaduna com cronómetros.
No entanto, este estudo diz-nos mais sobre os hábitos de leitura dos portugueses. Existe uma infinidade de factores que originam este número, desde um sistema educacional obsoleto cujo esforço de incentivo à leitura é pouco realista passando pelos preços dos livros num país em que a média salarial é baixa e o custo de vida caro. Estes e outros factores é que deveriam ser abordados como origem do alarme dos poucos livros lidos em Portugal porque estando estes motivos devidamente acautelados, os livros que consumimos num ano não são de todo espelho de doença ou saúde literária.
O facto da vontade de ler não nos ser regada desde cedo aliada ao facto do livro ser um bem caro e secundário, esses sim deveriam ser os principais motivos de preocupação e análise.