Greves nos Transportes Públicos

Nos últimos três anos, Portugal tem assistido a um grande número de greves nos transportes públicos, nomeadamente no Metro de Lisboa, na CP e na Carris. Vários foram os episódios de greve a que os portugueses assistiram, sendo que, em 2013, ocorreram quatro greves de 24 horas e sete greves parciais no sector. Em 2014, só no mês de Janeiro, podemos contar três greves parciais e, no presente ano, as greves dos transportes públicos têm-se sucedido, mês após mês, interferindo na vida de quem deles depende no seu dia-a-dia.

Várias são as causas desta greve, apontadas pelas respectivas empresas. Em Março e Abril, o Metro de Lisboa fez greve como forma de protestar a privatização da empresa. Ainda em Abril, a CP (Comboios de Portugal), a CP Carga, a REFER (Rede Ferroviária Nacional), a EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário) e a EP (Estradas de Portugal) decidem fazer greve, contestando as decisões tomadas recentemente pelo Governo para o sector, sendo estas a privatização da CP Carga e da EMEF, a fusão da EP com a REFER, a concessão de linhas da CP e a eliminação dos benefícios concedidos a trabalhadores e reformados.

Após a decisão do Governo, em Junho, de atribuir a subconcessão do Metropolitano de Lisboa, bem como da Carris, ao grupo espanhol de transportes urbanos Avanza, voltou a haver greve, tendo ficado outra greve marcada para 15 de Julho, data da assinatura do contrato de subconcessão das duas empresas envolvidas. No entanto, esta greve acabou por ser desconvocada, pois os sindicatos da UGT (União Geral de Trabalhadores) e da CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses) estão a preparar uma acção que envolva mais empresas de todo o sector, destinada a ocorrer em Agosto.

Tendo tudo isto em conta, é-me permitido concluir que as várias empresas do sector dos transportes públicos têm tentado lutar pelos seus direitos, enquanto trabalhadores, por melhores condições de trabalho e contra as privatizações que o Governo pretende implementar no sector. A questão que se coloca face a isto é: será que as empresas, ao convocarem tantas greves, estão a lutar só pelos seus interesses, ou defendem igualmente os interesses dos utentes?

Face a esta questão surge, desde já, o problema de os sindicatos afirmarem o desejo de defender o serviço público, quando, ao convocarem greves constantes, negam o serviço de transportes ao público. Uma grande parte dos cidadãos portugueses dependem dos transportes públicos para fazerem viagens no seu dia-a-dia, nomeadamente entre casa e os seus postos de trabalho, ou a escola. Ora, quando o serviço de transportes falha, ou quando apenas nos são fornecidos os serviços mínimos, somos todos claramente prejudicados por chegarmos mais tarde ao trabalho, ou à escola, por não conseguirmos estar a horas certas num compromisso e, muitas vezes, por nem sequer termos qualquer tipo de transporte – nem a horas certas, nem atrasado –, visto que, por vezes, nem os serviços mínimos são suficientes.

Para refutar o problema acima referido, basta pensar que para uma greve causar impacto nos órgãos governamentais é necessário que cause impacto no quotidiano dos cidadãos portugueses, causando uma quebra na rotina tão amena dos mesmos – o que leva a alguma agitação social e, consequentemente, a que o Governo possa repensar as suas decisões.

Por entre o público, ouvem-se e lêem-se muitos comentários de pessoas que discordam totalmente com as greves que têm sido convocadas nos últimos anos, por acharem que o facto de o país “parar” por um dia só nos vai prejudicar – já que as pessoas não vão para o trabalho por falta de transporte e, assim, não criam riqueza. No entanto, há também quem afirme que esta é a única arma que temos nas nossas mãos e um direito que nunca devemos deixar de lado, a fim de tentarmos mudar aquilo que nos causa descontentamento.

Concluindo, as greves nos transportes públicos são, sem dúvida, uma fonte de polémica, visto que num lado estão os interesses das empresas e, noutro lado, as necessidades e responsabilidades dos cidadãos no seu dia-a-dia – dois factores que entram em conflito, quando nos deparamos entre a espada e a parede, ou seja, entre aquela que é a nossa única forma de lutar pelos nossos direitos e aquelas que são as nossas responsabilidades do quotidiano, das quais dependemos para sobreviver.

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