Obrigado!! (Aos meus clientes)

Naquela quinta-feira, como nos últimos dias, casa cheia, mesas a rodarem, clientes satisfeitos e eu feliz por finalmente o negócio estar a arrancar. Vinha de um Janeiro compriiiiiidooooooo, de um Fevereiro não tão longo, menos difícil e a fazer antever bons ventos. Falava-se no vírus, mas nada significativo. Ouvia-se que poderia haver a hipótese de as escolas fecharem, apenas por precaução.

Sexta-feira, o dia em que é anunciado o fecho das escolas. Mantenho a casa cheia, comento com os clientes o que pode acontecer, mas muito longe de imaginar o que viria por aí.

Sábado apenas tive o grupo que tive durante a semana e que logo me disseram que não voltariam na próxima até se perceber o que se passaria.

Segunda-Feira, quebra em mais de 50%. Nota-se o receio nas pessoas. Informação mal transmitida por parte do nosso governo e parece que estou num barco à deriva. Começa a falar-se do Estado de Emergência. “Mas o que é isso?”

Terça-Feira, poucos ou nenhuns clientes, já com afastamento entre eles. A ansiedade aumenta, começo a sentir o tapete a fugir dos pés. As notícias não são nada boas, tudo a ruir.

Quarta-Feira, fecha tudo.

Sem saber o que era o Estado de Emergência, o restaurante fechou. Estou vazia. Perdi o meu sonho, mas o que é que está a acontecer? E agora?

Quatro dias em casa a tentar perceber o que estava a acontecer e como ia ser. Demorei quatro dias a perceber que o nosso Estado me deixaria “morrer”, se continuasse de porta fechada.

Segunda-Feira voltei a abrir a porta em take away e que até hoje mantenho, umas vezes com autorização para ter clientes na sala, outras de ter mesa à porta, de luzes, frigorifico e máquina de café desligados.

Como nos reinventámos? Não sei. Só sei que até agora me consegui manter. Com acordos prestacionais, com dívidas, com stress, com uma ansiedade que em dias mais difíceis me tira quase a capacidade de respirar, com horas muito negras em que a linha da vida é muito fácil de atravessar. No entanto, com muita resiliência, com uma fé que pensei tê-la perdido e com a confiança e apoio da família, amigos, vizinhos e clientes.

Hoje olho para trás e penso como cheguei até aqui. Tenho de gerir duas casas, o restaurante e a minha. Tenho conseguido, mas não graças aos ditos apoios que os nossos governantes tão pomposamente vêm para a televisão anunciar. Não tive direito a nada. Nada! Porque, como tantas vezes oiço e digo, nada disso chega às pequenas empresas. Deixei de ouvir o que esses senhores dizem, uma vez que, além de não conhecerem a realidade ainda me “gozam”, com as medidas irreais que implementam. Perdi a confiança neste estado, para o qual pago impostos e em quem um dia acreditei.

Neste momento, estou a preparar a reabertura da esplanada no dia 5 de Abril e a reabertura no restaurante dia 19 de Abril. E, meus senhores, vou abrir! Porque não foi graças a vós que me consegui manter aberta. Foi graças a mim, à minha colega e à minha sócia (que sempre acreditaram que seria capaz de levar este barco a bom porto são e salvo) e, sobretudo, aos meus clientes. Que são os melhores e aos quais agradeço todos os dias por se manterem comigo, com a mesma confiança desde o início deste furacão e com palavras de apoio e conforto que tanto me ajudaram a resistir.

Quando tudo isto começou, ao ver a porta do Coche aberta, quando a maior parte resolveu encerrar, um cliente habitual, após dois dedos de conversa, disse-me: “Existem os que choram e os que escolhem vender lenços.” Nunca me vou esquecer que escolhi vender lenços. E dia 19 de Abril o Restaurante O Coche (Belém) voltará a reabrir a sua sala com o que sempre teve de melhor, a nossa comida e a nossa simpatia.

Até lá continuo em take away, mas já posso vender cafés e outras bebidas.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
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Comments 2
  1. Apenas para deixar uma mensagem de coragem neste tempo difícil para quem trabalha no setor da restauração.

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