São quatro da tarde. Olho lá para fora na esperança que as respostas que tanto procuro cheguem. Não chegam e apercebo-me, a cada dia que passa, que talvez tenha chegado ao meu limite.
A minha paciência está por um fio, não tenho as forças necessárias para persistir, procuro uma segurança mesmo que tudo faça para que esta tarde em vir.
Há pouco menos de dois meses decidi começar de novo. Procuro constantemente a novidade, os desafios que tanto dão à nossa vida o inesperado e assustador. Há pouco menos de dois meses mudei de cidade, mudei de país. Talvez à procura de algo que nunca vou encontrar, ou simplesmente em busca de uma nova experiência que agora me faz questionar tudo aquilo que pensei saber até aqui.
Há pouco menos de dois meses vim viver para Barcelona, esta cidade inacreditavelmente viva e cosmopolita. Barcelona, uma cidade que pouco dorme e que esconde tantos encantos por cada lugar por onde se passa. As perspectivas profissionais em Portugal não eram animadoras e, com uma mochila às costas, fiz-me ao caminho. Um caminho que me viria a revelar tanto sobre os outros mas, principalmente, sobre mim.
Mal aterrei, fui invadida por tudo que se sente quando se muda: medo do que me esperava mas, acima de tudo, uma vontade enorme de conhecer tudo aquilo que esta nova fase me reservava. Vinha cheia de expectativas e com a certeza de que apenas a primeira semana iria custar a passar. Iria conseguir um emprego num abrir e fechar de olhos e, consequentemente, iria conquistar o meu espaço nesta cidade. Sentia que tinha tomado a decisão certa. Todos me diziam que eu ia singrar e encontrar o que procurava. Cheguei com a certeza de que apenas na primeira semana a tristeza iria fazer-me companhia todas as noites e a vontade de voltar também. Enganei-me. Os primeiros dias cá foram os que menos custaram. Conheci imensa gente, todos os dias fazia algo de diferente e nunca me permiti ficar em casa durante muito tempo.
Os dias foram passando. Tantas oportunidades de emprego, tanta gente a torcer para que tudo desse certo, tanto apoio e ajuda na saga que é arranjar um bom trabalho na minha área. Ele não chegou. A esperança, essa chegava de vez em quando mas era rapidamente substituída pela frustração e desânimo. Entregar currículos de porta em porta, disparar para todo o lado, deixar a exigência de lado e sobrepor a necessidade de fazer alguma coisa a tudo o resto.
As 24 horas diárias começaram a parecer 48. As semanas transformaram-se em meses. As expectativas caíram a pique. E aí percebi, estava a conhecer a parte que nunca nos contam destas aventuras incríveis. Estava a conhecer o outro lado do “começar de novo”. Estava a conhecer os meus limites e a obrigação de ter que lidar com eles. O emprego não chegou e o meu ânimo voou para longe.
As saudades do que deixei para trás assombravam as minhas noites em claro, a dúvida se teria ou não tomado a decisão certa não me deixava em paz.
Vim à aventura descobrir o que ninguém nos conta. Vim à aventura cheia de certezas e expectativas esquecendo-me que nada corre conforme queremos.
No final de contas, não mudava rigorosamente nada. Se não resultar serei suficientemente ponderada para regressar e continuar a luta. Se resultar, por cá ficarei e a todos revelarei a outra face da moeda.