A literatura e eu sempre tivemos uma simbiose perfeita. Desde muito novo que me habituei a ter como companheiro de cabeceira um livro. Gosto do cheiro a papel, tocar aquelas folhas amareladas com um toque áspero deixam-me em êxtase, enquanto não folheio a primeira página e embrenho-me no enredo de um livro é como se não conseguisse respirar. O livro é o ar que necessito para viver, o meu sublime elixir para a felicidade.
Quando tenho um livro em mão, não descanso enquanto não chego á última página. As histórias descritas neles fazem-me sonhar, voar na imaginação do autor e ancorar no leito de um porto imaginário, onde nós, simples leitores, nunca pensávamos chegar.
Existem actualmente várias plataformas tecnologias digitais que são mais fáceis de transportar e de fácil leitura do que o livro físico, mas, na minha humilde opinião, nada disso substitui o livro em formato de papel. Uma escrita com cheiro, com vida, como se cada palavra escrita pelo autor fosse vislumbrada por nós como uma magia ímpar.
Durante a minha vida, já li centenas e centenas de livros de todos os géneros, mas o primeiro livro que li, ainda muito novo, e que me marcou intensamente foi O Principezinho de Antoine de Saint-Exupéry.
O Principezinho é uma obra infantil com conteúdos aparentemente simples, no entanto, profundos, que contêm toda a filosofia da vida. É um encantador relato dedicado às crianças e não só. Também é dedicado aos adultos e à criança que existe dentro de nós, que por diversas vezes nos esquecemos que já o fomos.
Aos elementos fantásticos da obra, juntam-se certos traços de psicologia, que tratam de ideias tão profundas como o sentido da vida, a amizade, o amor e a simplicidade. É demonstrada uma mudança de valores, que nos ensina como nos equivocamos na avaliação das pessoas e das situações da vida. Ou, como com certos julgamentos, vamos perdendo a essência do amor pelo próximo.
Não podemos esquecer que dentro de cada um de nós existe sempre uma criança, que dá valor às coisas simples como a amizade, o amor e a solidariedade. É necessário procurar estes valores no fundo do nosso coração e que a vida não se resume a coisas materiais, mas, sim, àquilo que trazemos no nosso coração.
Quando olhamos com os olhos de uma criança, chegamos à conclusão que os adultos não dão importância às coisas que realmente importam, porque preocupam-se demasiado com números, são muito materialistas, não conseguem ver com o coração, só com os olhos, e existem determinadas coisas que só o coração sente e vê.
O Principezinho é a minha bíblia que tento seguir com maior ou menor dificuldade. Partilhar a amizade e o amor é essencial para a vida e eu tento abrir o meu coração e demonstrar que existem valores muito superiores, para além dos materiais. Abraçar quem precisa, dar carinho a quem necessita, amparar os mais idosos numa fraternidade sem limites é mais redentor do que termos a casa mais luxuosas ou o carro topo de gama. Temos que partilhar o amor, porque só assim seremos felizes, e esta obra ensina-nos a isso, a sermos novamente crianças com a máxima cumplicidade e inocência.