Deste livro de José Luís Peixoto não esperem ficção, nem literatura de viagens, como alguns poderão pensar à primeira impressão. O Caminho Imperfeito divide-se em três partes, cada uma delas constituída por vários blocos e antecedidas por uma ilustração do artista e tatuador Hugo Makarov. A fotografia da capa é da autoria do próprio escritor, capturada, num momento singular, tal como é descrito no livro.
Logo no início da primeira parte, José Luís Peixoto começa por inquietar o leitor, com a descrição do envio de três pacotes contendo a cabeça de um bebé; o pé direito de uma criança, cortado em três partes, pedaços de pele humana tatuada e um coração humano. Essas encomendas, despachadas como “brinquedos para crianças”, tinham como destino três moradas de Las Vegas, mas nunca chegaram a sair de Banguecoque.
Neste livro, o autor faz-nos viajar pelas ruas de Banguecoque, com o seu trânsito, os seus moto-táxis, a comida de rua, as luzes, o barulho, os aspectos históricos e culturais e as vivências.
No entanto, esta Tailândia (a do autor – porque cada um tem a sua Tailândia) é também o ponto de partida para outros locais (através de paralelismos feitos pelo autor), sejam eles a sua terra natal, Galveias, Lisboa ou Las Vegas. A Tailândia reflectida em vários acontecimentos e lugares.
A partir da segunda parte, o livro toma um caminho ainda mais intimista, onde é feita uma ligação de acontecimentos entre as várias gerações: pai – autor – filho. Ou, por exemplo, a comparação,da sua mãe nas ruas de Galveias, após as compras de sábado, ou nas ruas de Las Vegas, em frente aos casinos.
Surgem também, duas questões vitais ao autor: Por que escrevo? Por que viajo? A busca de respostas, caminhos, para a escrita, do que viria a ser este Caminho Imperfeito.
Em suma, O Caminho Imperfeito é um livro de auto-análise, de introspecção, de avaliação, de reflexão. A vida que é um caminho, que vem de trás, é onde nós estamos e é para onde vamos, dentro das várias viagens e dos vários caminhos, imperfeitos, sejam eles em Banguecoque, Las Vegas ou Galveias.
Um livro com passado, presente e futuro.
Uma escrita, com a marca JLP, um escritor lúcido e generoso.