Locais Insólitos Onde a Música Ganha Corpo

A inspiração para criar um álbum nem sempre é facilmente conseguida. A letra pode estar lá, o sentimento também, mas, se faltar o ingrediente para a sinfonia, conseguir a obra-prima pode ser mais difícil. Grande parte dos artistas considera que para conseguir a perfeição não só é necessário a obra possuir os ditos componentes, como também o local onde a obra, neste caso o álbum (e ás vezes uma música), é produzido. Casas assombradas, cabanas de caça, casas inacabadas são apenas alguns exemplos de locais escolhidos por artistas conhecidos no panorama musical para conquistarem os ouvidos dos fãs.

Casa inacabada

John Mellencamp – Pink Houses

A conhecida música Pink Houses improvisada na série televisiva americana, Glee, tem uma história relativamente à sua produção. Ao que parece, John Mellencamp pediu ao cunhado para que este usasse a sua casa no Indiana para gravar o álbum Uh-Huh. Michael Wanchic, guitarrista de John Mellencamp, confessou que “a sala de controlo de som era pequena” e, por isso, “cada pessoa escolhia o seu sítio e lá ficava”. Nos intervalos, a banda reunia-se num quarto de dormir do andar de cima, onde tinha sido improvisado para ser uma sala. Outro factor que fez do álbum Uh-Huh ser tudo menos comum, foi o facto de, nas redondezas desta casa, existir uma quinta com porcos. Wanchic afirma que o cheiro era “inacreditável”. Ainda assim, a parte de trás do álbum tem fotografias da banda a fazer brincadeiras na lama.

Na parte de trás de um carro

Ben Vaughn, um amante de música e carros, decidiu que era possível juntar os dois e fazer um álbum inteiro. Tudo aconteceu em 1997 com Rambler’95, gravado na parte de trás do seu AMC Rambler American de 1965 . A ideia surgiu de uma brincadeira decorrida durante a gravação de um demo, que soou a ideia a Vaughn que esperava captar o som da rádio da sua juventude no seu AM. Segundo o artista, gravar num carro destes “tem uma relação imediata, que não se tem quando se está num estúdio”.

Telhado

A banda punk rock do século XX,  durante a gravação da música She’s Lost Control, do álbum Unknown Pleasures. A bateria é notável nesta música e o local onde tudo aconteceu foi, nada mais nada menos do que num telhado. Martin Hannet, produtor do álbum, era obcecado pelo som da bateria e ambicionava sempre a perfeição. Deste modo, o baterista Stephen Morris tocou no telhado do estúdio Strawberry Studios, Stockport, onde estava a ser realizado a música She’s Lost Control. A música retratava uma rapariga que sofria de epilepsia e era conhecida de Ian Curtis nos tempos da sua juventude. Posteriormente, a jovem suicidou-se e esse destino acabaria por cruzar-se com Curtis, pois este também viria a despedir-se da vida pelos mesmos motivos. Alguns tempos depois de escrever She’s Lost Control, os ataques de epilepsia entraram na vida de Ian Curtis e o álbum Closer seria o último trabalho da banda.

Num Hospital

Depois de John Lennon e Yoko Ono fazerem uma peculiar sessão fotográfica realizada por Annie Leibovitz, o álbum Unfinished Music No.2: Life With The Lions é produzido no hospital londrino de Queen’s Charlote. Um álbum com um conceito vanguardita, que aborda o aborto de Ono. Numa segunda fase, o casal leva o gravador para dentro do hospital de Queen’s Charlote, onde documentam o que vêm, em quatro composições que documentam o internamento de Yoko Ono. A primeira faixa refere-se ao momento em que Yoko Ono vivia cinco meses de gravidez – No Bed For Beatle John. As seguintes faixas registam a vida do bebé, o esforço parental vivido e, por fim, a morte trágica da criança.

Espaços abandonados 

A 16 de Junho de 1997, os Radiohead lançaram o álbum que teria sido produzido na Corte de St Catherine, em Somerset. A mansão que pertence à actriz Jane Seymour, situa-se na zona campestre inglesa e serviu de palco para a gravação do álbum Ok Computer. A corte de St. Catherine’s fora outrora casa para o costureiro de Henry VIII e para a sua filha adoptiva.

Segundo o vocalista, Tom York, a casa estava assombrada e alguns fenómenos estranhos aconteceram durante as gravações. As cassetes aparentavam ter vida, pois ligavam-se e desligavam-se sem influência humana. A sonoridade com eco e a atmosfera arrepiante pode ser notável na música Exit Music (For A Filme) que fora gravada numa entrada de pedra. Este espaço foi também usado por outros artistas como: Robbie Williams, que alugou a casa para um episódio do MTV’S Cribs, e os The Cure gravaram Wild Mood Swingse parte do New Order’s Waiting For The Sirens’ Call.

Uma mansão possivelmente assombrada

Os Red Hot Chili Peppers gravaram o álbum Blood Sugar Sex Magic numa mansão que pertencia a Rick Rubin. Anthony Kiedis, vocalista da banda, queria gravar num sítio menos tradicional e, por isso, escolheram a mansão de Rick Rubin, em Lauren Canyon, perto de Mulholland, para gravar o álbum Blood Sugar Sex Magic (1991). O interesse em gravar nesta mansão já tinha sido reconhecido por James Murphy dos LCD Soundsystem (quando produziu This Is Happening, em 2010). Esta famosa mansão porém, assombrou os dias dos Red Hot Chili Peppers. Segundo o documentário Funky Monks, que detalha o álbum BSSM da banda, Flea explica que o baterista Chad Smith tinha receio de viver na casa (que chamavam a mansão do Harry Houdini) porque dizia-se que a casa estava assombrada e já tinha assistido a um fenómeno estranho como uma porta a abrir sozinha.

A Fábrica de Chernobyl

O dinamarquês Jacob Kirkegaard visitou Chernobyl, a Zona de Exclusão – não se sabe se lá entrou legalmente – e gravou o álbum 4 Rooms. A intenção do artista era explorar um dos maiores desastres da história da humanidade que terá decorrido a 26 de Abril de 1986. Nuvens de partículas radioactivas foram libertadas e a destruição começou a aglomerar-se. Os efeitos no meio ambiente foram catastróficos: uma aglomerada área no Norte da Europa foi infestada com radioactividade. Ainda assim, esta produção artística conseguiu a Kirkegaard um prémio de Qwartz 4 para Best Artwork.

Cabana de caça

Justin Vernon, vocalista de Bon Iver, decidiu que o álbum For Emma, Forever Ago deveria ser gravado numa cabana de caça do pai no Noroeste de Wisconsin. Segundo conta, Vernon decidiu voltar à cidade de Eau Claire, após o rompimento de um relacionamento amoroso e da sua banda DeYarmond Edison, e compôs durante três meses (em que também se curava de um caso de mononucleose) de isolamento o álbum em questão. Após compor o álbum, Vernont tratou de enviar os demos e tudo o que havia composto para blogues e alguns sites e colocou algumas online.

Pelos Estados Unidos com um iPad

A tornê de Escape to Plastic Beach, em 2010, dos Gorillaz fora tudo menos comum. Damon Albarn, o responsável da banda virtual, gravou todo o álbum The Fall no seu próprio iPad, durante 32 dias nas estradas dos Estados Unidos da América e Canadá. O tributo é notável no álbum The Fall com músicas como Phoner To Arizona e The Snake In Dallas que fazem da presença rodoviária uma componente musical. Para os curiosos que queiram viver a mesma experiência que os Gorillaz, aqui vai uma ajuda.

Uma prisão

A banda Burzum, do genéro black metal, fez grande parte das gravações dos álbuns Dauði Baldrs and Hliðskjálf na prisão norueguesa de Bergen. Varg Vikernes, estava a fazer 15 anos de cadeia (faltando 6 para finalizar) por ter esfaqueado o seu colega de banda Øystein Aarseth até à morte (ah, e por ter queimado algumas igrejas). Embora Vikernes não estivesse autorizado a trazer qualquer tipo de instrumentos musicais para a prisão, o vocalista decidiu continuar o seu álbum a solo na própria cela da prisão. Com apenas um Sintetizador, ele fez dois álbuns: em 1997, Dauði Baldrs (traduzido“A morte de Baldrs”; irónico?) e, em 1999, Hliðskjálf (nome do trono de Odin).

Desde que foi posto em liberade condicional, em 2009, Vernen compôs dois novos álbuns e permaneceu ocupado, defendendo as suas crenças neo-nazistas. Por isso, quem sabe se, no futuro, Burzum não estará na prisão a criar mais uma obra de arte?

 

 

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