Quantas vezes encontro-me em cada página que leio? Uma personagem, ali estampada nas páginas de um livro, como um espelho inesperado, um retrato não autorizado. Quantas vezes encontramos as nossas vidas, um momento, uma situação, no acaso da literatura? É a verosimilhança (e voltamos à “mimesis” de Aristóteles) que nos permite este encontro, apesar de já não ter o objetivo de purgar a moralidade como na tragédia da antiga Grécia. Mas a verdade é que é nos livros que temos a oportunidade de aprender, não só sobre a sociedade e o mundo, mas também sobre nós próprios.
A literatura está muito longe de ter apenas um papel de entretenimento (tem, e não há problema nenhuma nessa faceta), mas a literatura é mais que isso. É aprendizagem, é descoberta, é desenvolvimento. É o reconhecimento de nós e dos outros, é o desconforto, o passo em frente, que permite descobrir mais, aprender, desenvolver a curiosidade e entrar num ciclo que nunca mais termina. E há medida que aprendemos mais sobre nós próprios, nos descobrimos, também crescemos, evoluímos, transformamo-nos num outro.
Esta oportunidade existe também na leitura recreativa. Portanto, cada vez que pegamos num livro e o transportamos connosco debaixo do braço, no fundo da mala ou no banco do carro, estamos também a transportar oportunidades, de entretenimento, mas também de aprendizagem e desenvolvimento. E se podemos achar que isto é importante para os adultos, imaginem então para os mais jovens?
Óptima reflexão. Numa altura em que, cada vez mais, as pessoas procuram os livros que as não façam pensar, que já façam o trabalho por elas, é fundamental ressalvar o papel didáctico do livro, o papel de questionar e pôr em causa.
Há lugar para ambas as leituras. É bom um livro em que podemos descansar, mas também um livro que nos faça refletir.