O Caminho de Santiago

Um dia vou fazer o Caminho de Santiago!

Esta foi uma frase dita diversas vezes mas por um motivo qualquer, talvez alguma inércia, ainda não se tinha concretizado. Na verdade não tinha qualquer motivação religiosa para fazê-lo ou até uma vontade sobrenatural que me consumisse a alma com este desejo! Quis fazê-lo pela mesma motivação que me leva a fazer outras coisas: pelo gosto de experimentar coisas que nunca fiz, tão simples quanto isso. Contudo, uma conjugação de fatores favoráveis fez com que o concretizasse em maio deste ano.

Importa também salientar que não sou pessoa de campismo nem de caravanismo nem de nada que essencialmente me faça abdicar de algum conforto. Sim é verdade… pode parecer comodismo mas faço parte daquele grupo de pessoas que acampa com facilidade num bungalow nas Maldivas, ainda assim, não disse que não a esta aventura! Por estarmos em tempo de pandemia os albergues públicos e muitos dos privados que acolhem os peregrinos não estavam abertos, e assim sendo a aventura foi um pouco mais controlada do que seria em circunstâncias normais, ou seja, caminhar sem nada marcado e recolher num dos muitos albergues que existem. Fomos mas com as estadias agendadas previamente para não termos surpresas.

Seja qual for o pretexto para fazer um dos Caminhos de Santiago é preciso ir, não só ir com alguma preparação mental para o esforço, como física. Cada um poderá traçar o plano de caminhada como entender, gerindo desse modo, o tempo e o esforço. Apesar disso, nunca é demais deixar as ressalvas que será sempre “desafiante”, porque são muitos quilómetros, porque afinal o calçado não era o melhor, porque a mochila é pesada, porque não levamos roupa confortável ou a falta que os bastões podem fazer. Nada que algum treino e organização não resolvam, não se deixem abater!

Tive momentos em que caminhei bem, tive outros que me custaram bastante não só porque foram muitos como fiquei com bolhas nos pés. Aprendi a preferir subidas a descidas, os joelhos fazem menos força apesar dos músculos irem em tensão. O peso da mochila aguenta-se bem e, no meu caso, ajudaram a equilibrar-me, não me dando cabo das costas nem dos ombros. Fizemos muitos quilómetros sozinhos e alguns deles em silêncio, sei que nem sempre acompanhei o passo, mas o António esperou por mim. Não deve ser fácil ir com alguém que não acompanha plenamente o ritmo mas não soube fazer melhor, desta vez, para a próxima já será diferente.

Apesar de tudo, passamos por caminhos lindos e florestas mágicas. Cruzámo-nos com pessoas simpáticas, disponíveis para ajudar e com boas dicas para sarar bolhas! Tivemos dias de sol e de alguma chuva, apanhamos lama, andámos na beira da estrada, andamos por caminhos de cabras e subidas que pareciam nunca mais acabar! É muito importante caminhar com alguém que esteja disponível para nos acompanhar e que não desista de nós nem do desafio em si. É um caminho de empatia, compreensão e muita camaradagem. É na adversidade que se conhecem melhor as pessoas e nessa parte, não poderia ter tido melhor companheiro de viagem que o António.

Aliás nada disto teria acontecido se não tivesse conhecido o António, que foi quem organizou tudo e escolheu o caminho a fazer. A par disso, carregou a minha mochila e a dele em algumas etapas (para verem o meu estado…) e isso, se não for amor, não sei o que será!

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