Fundamentado ou não pela fé ou pela crença, o tema morte gera ainda alguma discórdia científica, religiosa e/ou moral.
Tecnicamente somos corpo e enquanto vivemos, exercemos várias funções vitais até se dar o processo irreversível de cessamento das atividades biológicas.
Até aqui tudo bem. Viver é manter o sistema orgânico no compasso.
No entanto, quando se dá este passamento, há quem acredite que existe também um desencarne. É neste ponto que todas as razões cognitivas ganham uma importância até então abafadas.
Sendo assim, o que significa a morte?
A visão de quem morre é ainda uma incógnita, no entanto na perspectiva de quem fica as questões que se levantam são essencialmente morais.
Quem fomos nós na vida daquele Ser ou quem foi aquele Ser para nós? Enquanto as duas vidas se cruzaram que importância tive ou tiveram para mim? Em que contribui ou em que contribuíram na minha própria formação?
Aquando da zona cinzenta, a que iremos chamar de luto, existe toda uma negação quase que inconsciente do sucedido. Não queremos nem conseguimos acreditar que não vamos mais ver, fisicamente, aquela vida que coabitava a nossa. A dita saudade é meramente egoísta.
E para quem fica, o que significa morrer? Quantos de nós morrem sem morrer?
Do lado de quem agora vos escreve, fica somente um ponto final. É ali que se interrompem planos de futuro (a curto ou a longo prazo). Cabe a quem cá fica, sair da sombra e agir pela vida que fica. Viver não é sobreviver. E se para não andarmos por aí moribundos, tivermos de deixar ir os mortos em paz, então deixemo-los ir.
Tudo é passageiro nas nossas breves vidas mais vale acreditarmos que todos também o são. Certamente não estaríamos tão apegados à zona cinzenta se tivéssemos aproveitado na plenitude o tal tempo reduzido que todos sabemos que é assim e ninguém cumpre.
Não seria mais coerente vivermos focados na vida em si ao invés de vivermos focados numa morte que irá chegar? E se questionarmos bem o tema, o que é então morrer fisicamente se o que sobra são lembranças e emoções que nunca morrem cá dentro?
Não sejamos uma data-limite, um prazo de validade, um luto constante por tudo e todos que já se foram fisicamente. Agarremos no que nos deixaram e seguimos em frente com essas armas para que guerras surgirem.
Quem morre não morre em nós e quem fica que viva mais.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico