O segredo de Louise, Princesa do Reino Unido e Duquesa de Argyll (conclusão)

Em Julho, Louise escrevia a uma amiga, relatando que se sentia “abatida” e “triste”. “Sentei-me no meu quarto a chorar. Não posso escrever e dizer-lhe o porquê… há tantas coisas que não deveriam ser como são… Estou à espera para concordar com elas, e ainda assim não posso, quando sei que estão erradas

Se estivesse efectivamente grávida, a criança teria nascido no final do ano, ou no início do seguinte. As descrições que chegaram até nós referem como teria recuperado a sua forma física, em Fevereiro, quando esteve presente na cerimónia de abertura do Parlamento, ostentando um vestido de seda branca. No mesmo mês, o seu irmão, Bertie, o futuro Rei Eduardo VII, e a sua mulher, Alix, futura Rainha Alexandra, provocaram a ira de Vitória, ao nomearem a sua filha recém-nascida Louise, como a tia, e não Vitória, como a avó, tal como ditaria o protocolo. Terá sido esta uma forma de aliviar a dor de Louise em desistir do seu próprio filho?

O único membro da Casa Real que poderia ter sabido desta gravidez, seria o obstetra da Rainha, Sir Charles Locock, o responsável pelos nove partos da Rainha Vitória e pelo da princesa. Por alturas deste, teriam ocorrido uma série de eventos familiares misteriosos, que teriam permitido a manutenção do segredo do nascimento.

No início de 1867, um dos filhos do médico, Frederick, mudou-se para um apartamento subsidiado pela Coroa, perto do Palácio de St. James, tendo-se casado apressadamente seis semanas após a morte da sua mãe, apesar das convenções sociais da altura habitualmente estipularem o período de luto de um ano. Em Dezembro, o casal adoptou uma criança a quem deram o nome de Henry. Por essa ocasião, o médico terá recebido a visita de Lady Stirling, a mãe do tenente Walter Stirling, o pretenso pai biológico da criança. Pouco tempo depois da adopção, a família começou a receber um subsídio substancial e misterioso.

Walter George Stirling teria continuado a ser remunerado através da Casa Real, com uma pensão equivalente à de Moço Fidalgo (Royal Groom), uma recompensa bastante elevada para apenas quatro meses de serviço, que teria servido para comprar o seu silêncio. Efectivamente, em 1867 a Rainha demonstrou alguma apreensão relativamente a essa questão, expressando os seus receios a uma amiga íntima, Lady Biddulph, embora sem especificar quais os motivos. Mais tarde, nesse mesmo ano, o Príncipe Arthur, escreveria à irmã, Louise, em cuja carta pedia desculpas a esta por ter revelado o segredo e assegurando-lhe que não o iria tornar a fazer. Tal como a mãe, a Rainha, não especificou qual o teor do segredo.

Por seu turno, os descendentes da criança defendem que a Princesa manteve um contacto regular com ele ao longo da sua infância, conservando alguns presentes oferecidos por aquela, nomeadamente uma foto de infância de Henry numa moldura pintada à mão. Além disso, Henry e os pais adoptivos eram visitas regulares do avô, cuja casa de campo era muito próxima à de Louise.

Henry cresceu, casou e teve seis filhos, tendo morrido ainda jovem, em 1907, após uma queda de um comboio no Canadá, supostamente para comprar terras. Curiosamente, Walter Stirling, o seu pai biológico, havia igualmente emigrado para o Canadá. Estaria aquele no seu encalço? Misteriosamente, seis meses após a morte de Henry, um fundo de 60 mil libras foi misteriosamente colocado à disposição da sua viúva e seis filhos. O seu pai, Frederick, morreria passados quatro anos, deixando uma incrível herança de mais de 100 mil libras esterlinas, uma quantia substancial para a época.

Henry de Battenberg e Princesa Beatriz, no dia do seu casamento
Henry de Battenberg e Princesa Beatriz, no dia do seu casamento

Em 1871, Louise casava-se com o Marquês de Lorne. Embora não tenha tido acesso aos arquivos familiares, Lucinda Hawksely conta que um dos seus arquivistas lhe terá contado que na véspera do casamento a Rainha teria escrito ao noivo, advertindo-lhe que a filha era estéril. A rainha só poderia ter tido conhecimento disto, se a sua filha tivesse tido algum trauma ginecológico anterior, que a tornasse incapaz de dar à luz mais crianças. Efectivamente, deste casamento não haveria descendência e na verdade os cônjuges viviam vidas separadas, ainda que Louise o tenha acompanhado na sua estadia no Canadá, por ocasião da sua nomeação como Governador, em 1878. Além de um excêntrico no modo de vestir, nos banhos poucos frequentes, ou até no facto de não deixar a mulher usar a sua mesa de bilhar, era também homossexual. Enquanto que este procurava parceiros sexuais anónimos em Hyde Park, ou assistia a orgias homossexuais oferecidas pelo seu tio, Lord Ronald Gower, em Londres corriam boatos dos diversos amantes de Louise: o artista Edward Lutyens; o seu cunhado, o príncipe Henry de Battenberg, casado com a mais nova das suas irmãs, Beatriz; o seu escudeiro, o coronel William Probert; o secretário privado de sua mãe, Arthur Bigge, mais tarde Lord Stanfordham, e o escultor Joseph Edgar Boehm. Embora seja conhecido do público de que este teria morrido na companhia da Princesa, em 1890, no seu estúdio, a historiadora afirma, no entanto, que a morte teria ocorrido em pleno acto sexual entre os dois.

Escultor Joseph Edgar Boehm, no seu atelier
Escultor Joseph Edgar Boehm, no seu atelier

Esta biografia não será certamente a biografia definitiva desta princesa, deixando muitas perguntas sem resposta. Para isso, será necessário esperar que os Arquivos Reais de Windsor permitam o acesso à consulta da documentação relativa a esta Princesa, Duquesa de Argyll, bem como os arquivos na posse da família do seu marido.

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