Homo est naturalier politicus, id est, socialis
Aristóteles
O homem é, por natureza, político, isto é, social.
Escrever sobre tópicos que incomodam, porém, que são parte do dever de cidadania de todos pode ser complexo. Obriga a uma reflexão sobre os mesmos, e porque tal como qualquer indivíduo que se preza ser, tem um vínculo partidário e o usa como forma de advir. Uma opinião e perspectiva social, vinculadas pelas vivências, moral e ideais, capazes de serem incompletas; pois são parte de conhecimento erróneo, resultante de sentimentos e emoções; susceptíveis a ilusões e distorções dos factos que a realidade apresenta.
No que toca a escrever sobre política, demasiadas são as lacunas a ela inerente que a fazem ser assunto constante e, motivos não faltam para que esteja na ordem do dia. O problema é escolher o tema mais relevante do momento, a notícia mais caricata ou que merece uma atenção especial por ser continuada. Também para o fazer; de acordo com o que considero ser um texto digno desta revista digital; é inata e intuitiva esta pretensão de ser objectiva e imparcial, afim de evitar a corrosão do livre-arbítrio e duplopensar de quem lê. Porque, fácil seria, abdicar dessa isenção, desprotegendo a ética e moral dum trabalho que se quer reflexivo e passível de fazer reflectir e, correr o risco de ficar à mercê das vozes sábias da polis digital.
Acreditem que, em tempo útil e, sempre que se verifique, a minha visão e perspectiva política vem à tona, para lutar contra o que considero ser uma agressão aos direitos do Povo Trabalhador. Uma liberdade existente apenas na esfera política e que é usada como marioneta pelos seus governantes. Em função disso, e há pouco tempo atrás, tive o desprazer de sofrer as consequências, colocando-me como porta voz de algo que voltaria a fazer porque, sou “por natureza, político” e, porque, por vezes, há que ser disruptivo. E, porque assim o acredito. Ainda que, ninguém sozinho, consiga fazer frente aos poderes hierarquizados e institucionalizados de entidades pertencentes à Administração Pública, obsoletas pelos sistemas arcaicos e monopolizados da vontade de quem os ministra e, faz de tudo para destruir aqueles que são os seus recursos humanos.
A corrupção continuará a prosperar até que os sistemas judiciais possam punir as irregularidades e manter os governos sob controlo. Quando a justiça é comprada ou sofre interferência política, são as pessoas que sofrem. Os líderes devem investir plenamente e garantir a independência das instituições que respeitam a lei e combatem a corrupção. É hora de acabar com a impunidade da corrupção.”
François Valérian, Presidente da Transparência Internacional
O Índice de Percepção da Corrupção de 2023 “revela que o combate à corrupção em Portugal continua a não avançar e tem falhas ao nível da integridade na política“, apontando lacunas no combate à corrupção em Portugal, nomeadamente na Estratégia Nacional de Combate à Corrupção, por deixar de fora do seu âmbito os gabinetes dos principais órgãos políticos e de todos os órgãos de soberania e, também, o Banco de Portugal, colocando Portugal no 34º lugar do ranking, com 61 pontos, numa escala de 0 (país percepcionado como muito corrupto) e 100 (país visto como mais transparente), de entre 180 países.
Na página da Transparência Internacional podemos ler que “é tempo de parar com a impunidade na corrupção”, e que mais de dois terços dos países atingiu uma pontuação entre 50 a 100, indicando que os mesmos têm um grave problema com a corrupção, sendo a injustiça social e as gestões de topo apontados como motivo para que a mesma aconteça.
Do ponto de vista geral, será que os portugueses têm consciência desta propensão nacional para a corrupção? Ou, será, porém, mais um tema que, como tantos outros, incomoda, é alvo de crítica, e, ainda assim, se lhes fecham os olhos no que toca a agir para a diminuir? Será que tem a ver com consciência individual e social? Será que todos estamos susceptíveis à mesma?
Jiddu Krishnamurti fala sobre corrupção e qual a causa da corrupção, duma forma tão simples e fácil de compreender, dizendo que a “corrupção começa com o interesse em si mesmo”, podendo assumir várias formas que, não é só passar dinheiro por baixo da mesa (suborno), como também o nepotismo, a fraude, a lavagem de dinheiro, o desvio de fundos públicos, entre outras tantas práticas não éticas. E, que se há um interesse em si mesmo, no “que eu quero, o que devo ser, se sou ganancioso, invejoso, duro, brutal, cruel, há corrupção”. Porque a corrupção começa no coração, na mente, não somente dando dinheiro, e que a causa real está dentro de si mesmo e, a não ser que se encontre essa causa e a mude, a corrupção estará sempre presente.
Pesquisando sobre o assunto, a wikipédia retrata a causa da corrupção pelos “altos níveis de monopolização do mercado e política. Baixos níveis de democracia, fraca participação civil e baixa transparência política. E níveis mais altos de burocracia e estruturas administrativas ineficientes”.
Ficamos aqui a pensar o lugar de Portugal nesta tabela de corrupção mundial.
Quem são esses gananciosos, então? Será que podemos aceitar que somente aqueles que detêm o poder ou têm um papel dominante na sociedade são os únicos que estão sujeitos à corrupção?
Ou, falamos de qualquer indivíduo que, ainda que não se reveja nesse papel, pode ser qualquer um de nós?
Quem não se lembra da Banqueira do Povo, a famosa D. Branca?
Ou, da “falsa professora de matemática”, há umas semanas atrás?
Será que esta última não é uma forma de corrupção em igual medida?
… tantos outros…
E, se fecharmos os olhos a Narciso e olharmos bem dentro de nós?
NOTA: Texto escrito segundo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
Bela publicação… Raramente estou ler as publicações em português, prefiro a minha língua materna…
Gostei muito ler a ideia que lança o autor.Parabens!
Olá, Lara!
Pergunto-me qual será a sua língua materna?
Agradeço as suas palavras e espero que continue a acompanhar-me aqui.
Beijo de luz
Carmen Martins Ezequiel
“Quando perceberes que, para poderes produzir tens de ter autorização dos que não produzem nada;
Quando reparares o dinheiro a fluir para quem negoceia não com bens, mas com favores;
Quando reparares que os homens ficam ricos pelo suborno e por influência, e não pelo próprio trabalho, e que as leis não te protegem deles, antes os protegem a eles de ti;
Quando observares a corrupção a ser recompensada e a honestidade a converter-se em auto-sacrifício;
Então poderás constatar que a tua sociedade está condenada”.
Parabéns Carmen, pelo excelente texto!
Na realidade, penso que somos seres potencialmente maleáveis, ao nível do caráter, e por isso mesmo temos capacidade de corromper e ser corrompidos, mesmo no nosso cotidiano.
Acredito também que o livre-arbítrio já está ferido e frágil, pela corrosão dos dias de hoje. A liberdade de expressão está como o “tolo no meio da ponte “; ora podemos dizer tudo; ora temos de ter muita cautela com o que dizemos.
Olá, Hugo!
Obrigada pelo comentário que, vem acrescentar um ponto essencial a esta questão: o quão fácil é ser corrompido. 😉
Beijo de luz