“Tente de novo. Falhe novamente. Falhe melhor.”
Samuel Beckett
Este artigo vai ser confuso, não terá uma estrutura muito racional ao contrário do suposto num Repórter Sombra. Peço desculpa à entidade e aos colegas por não ser a melhor forma de usar do vosso tempo de raciocínio na leitura, mas espero que vos saiba bem este tempo de questões. Vou tentar fazer perguntas e dar respostas ao longo do texto. Fica o aviso de antemão!
Mentir ou não mentir? Eis a questão.
Mentir não é sempre feito pelas mesmas razões e mentir não é sempre um mal utilizado. Pode ser a chamada mentira piedosa, para não fazer mal a alguém com uma verdade ingrata. Fazer já hoje aqui na Terra sem pensar no céu, na divindade, no castigo, no pecado. Sem utopias, sem paraísos, usufruindo da vida que temos e que é genial, se pensares bem. Pelo bem-estar do viver melhor uns com os outros.
Posso começar por contar uma mentira, semiverdade: não estou habituado a mentir. Os meus pais ensinaram-me desde pequenino que mentir é feio e fui muito bem-educado. Escusam de rir ou pelo menos, vou tentar enganar-vos sempre sem mentir; ou nem isso: serei tão verdadeiro qua saiba, possa e consiga.
Na base de qualquer boa sociedade, está a verdade e é fundamental sermos sérios. Para acreditares em mim, eu tenho de acreditar em ti e vice-versa.
Não vos quero enganar, mas temos de nos levar a sério mutuamente. Não o tempo todo, mas a maior parte do tempo. Temos de experimentar ser muitas coisas diferentes, mentiroso também, menos. Existiram momentos em que é preciso mentir.
Vou tentar não mentir neste artigo.
Se o normal no ser humano é mentir, não tenho grande normalidade, pelos vistos. Se todos mentimos, gosto de ser exceção. Estou aqui a pensar se minto muito, pouco ou raramente. Não sei que percentagem da frase “não estou habituado a mentir” é mentira ou verdade. Depende da mentira ou do que consideras mentira.
O que é a mentira?
Somos todos, felizmente, tão diferentes, que o que é mentira para ti pode não ser para mim agora. O que é hoje verdade aqui, amanhã pode ser mentira ali. Depende do grupo para quem falas, do tempo e do espaço onde estás/és, das palavras que usas. Há mentiras enormes e outras que são inocentes, de cacaracá.
Contesto que das nossas maiores falhas seja mentir. Há tanta coisa pior que mentir. Depende do que entendes por mentira. Ocultar a verdade, distorcê-la, negá-la?
Há tantas coisas piores que mentir. Ou, talvez, seja uma obrigação; não se pode viver sem mentir. E todos nós mentimos uma vez ou outra.
No que consiste uma mentira? É complicado ser exato. Existem tantas perspetivas diferentes e não somos sempre o mesmo, somos tantas pessoas como idades, e vamos ficando sempre mais velhos.
Há em cada assunto vários tons, cores, sons, palavras, ideias.
Há quem seja mais aberto ao cinzento, ao negro, ao castanho, à literatura, à política, à ciência, aos filmes, aos romances, aos noticiários, ao desporto, ao sonho, ao vento, há de tudo; pessoas do passado, do presente e do futuro, viajadas, daqui e de agora.
O tema da verdade e da mentira é estranho, complicado; vou passar a dar mais atenção se digo mentiras e/ou verdades, este texto já serviu para isso.
Não sou verdadeiro de todo, nem mentiroso de todo, sou assim metade, metade, por vezes engano-me a mim próprio, depende do espaço e do tempo, da perspetiva. A mentira e a verdade são muito relativas.
Se fosse fácil não tinha piada nenhuma, é um lema de vida de um amigo e não é fácil ser sempre verdadeiro, talvez por isso seja bom usar a verdade em prol de um mundo menos mentiroso.
Se queremos um mundo melhor, façamos por fazê-lo, sê-lo, sendo honestos com nossos interiores e exteriores.