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Marc Rebillet

Marc Rebillet como morfina

Em tempos atípicos, acontecem coisas atípicas. Decerto que sentiram ou assistiram a isto algures neste espaço temporal de 20/20. Escrevo-vos do fundo do meu pequeno ser, que se espelha como num quadro surrealista, em que nada fez sentido dentro do sentido que tudo pareceu fazer. Pior que isso será verificar que ainda faltam alguns meses para isto serenar.

Será aqui que entra o Marc Rebillet; a primeira vez que o ouvi já o mundo estava a colapsar, num improviso que ele fez do quarto do hotel onde se encontrava em quarentena. Criou, nesse dia, a música “Let me see your dick”. Também eu estava em quarentena, vinda de férias ao leste da Europa, chegada um dia antes do governo declarar o estado de emergência. Não sei o que me chamou a atenção (bom, provavelmente o título, pois claro), mas sem dúvida que o que me prendeu foram um misto de factores que nem todos os artistas possuem – estava a ver um miúdo de calções, franzino, de óculos sem sinais de ter sequer passado pela puberdade, com um timbre poderoso, uma tacitura elástica e modelação vocal de profissional. Para além disso, o miúdo Marc estava a improvisar, a dar um espetáculo no quarto como se estivesse num palco. A cereja do topo do bolo será a lírica – fez-me rir, rir de bom grado como já não fazia há algum tempo, e por escassos momentos, fez-me esquecer o salto para a fossa que a minha vida estava a dar.

Numa pesquisa pelo Rebillet, descobri que o miúdo tinha formação de actor. Ele serve-se disso, daí tudo encaixar tão bem – ritmo com as temáticas, até com a própria presença do músico nos vídeos. Começou a sua carreira em 2016 ao gravar as suas desbundas nos quartos de casa e de hotel submetendo-as posteriomente para o youtube e Instagram. Os seus streamings cativaram espectadores virtuais, mais tarde presenciais. O puto do Texas (peço perdão pela minha falta de etiqueta), agora com 31 anos, serve-se da música eletrónica meio funky, com rastros de soul e um je ne sais pas tão característico dele, tudo em bruto pois ele é um artista de improviso – todas as músicas foram criadas numa único tentativa.

Talvez tenha sido esta urgência que improviso que me tenha chamado para ouvir o menino Marc com outro nível de atenção. Uma urgência de cortar com a “boa educação”, cortar com a necessidade de controlo. Nem partilho a minha noção de “vida plena” neste momento, deixo só a música “Berlin – Live” falar por mim pois foi a primeira coisa que me apeteceu ouvir esta manhã.

Para quem quiser alhear-se da vida como eu, recomendo Rebillet como morfina. Já consumi ambos e ambos me tiraram dores, tendo a habilidade de me transportar para um sítio com unicórnios, arco-íris e merdas.

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