O despertador tocou, mas não ouviste.
Estás cansado, stressado e adormeceste mais uns minutos.
Levantaste-te num ápice. O banho saiu e metade dele estava frio. É inverno e a botija decidiu esvaziar-se por completo.
Que raio de azar.
O carro não pegou. Parece que a bateria morreu. Porcaria de vida, mais uma despesa proibida.
Corres para a paragem e o autocarro já passou. Resta-te esperar de pé junto à placa numerada.
Começou a chover e tu sem chapéu ou gabardina.
Mesmo à tua frente, enche-se uma poça de água e lama e, a cada carro que passa, és presenteado com mais um banho sujo.
Que drama!
Finalmente no escritório. Atrasado para a reunião. O chefe dá-te conta do juízo, como se aquilo que ganhas não fosse só por si um prejuízo.
O trabalho é rotineiro e mal pago. Tanto menino abençoado e só a ti te calhou ser azarado.
Papéis, correio eletrónico e o telefone que vibra sem parar.
Hoje, nem tens tempo para fumar.
Felizmente, tinhas um engate agendado para o fim do dia.
Sempre dava para desanuviar, mas a fulana ligou a desmarcar.
Estava nos dias difíceis e sem paciência para te aturar.
Que raio de vida.
Que raio de azar.
Tu sentes que não mereces nada daquilo que o universo te está a dar e que tanta injustiça te começa a sufocar.
Sim, tu, que te queixas da vida, és o mesmo que deixa o cão preso, um dia inteiro, a uma corrente de metro e meio.