Há o refundar e o refundar

Recentemente, ouvi alguns trechos de um discurso de Emmanuel Macron, actual Presidente francês, feito no Parlamento alemão. Ficou-me no ouvido a palavra “refundar”. Segundo Macron, cabe à sua França e à Alemanha – ainda da senhora Merkel – a árdua tarefa de “refundar” a Europa.

Ora, face a tal declaração pública do mais alto governante gaulês, apraz-me colocar a seguinte questão: O que quer dizer Macron com isto do “refundar a Europa”? É que há o “refundar” e o “refundar”. Passo a explicar…

Durante séculos, o Velho Continente sofreu imensas transformações nas suas fronteiras. Entre guerras, tratados e outros “arranjos” diplomáticos, as fronteiras de países como a França e a Alemanha (por exemplo) foram-se alterando até terem adquirido a actual forma. Forma esta que, a título de complemento, não tem garantias absolutas de que se venha a manter, dado que são muitas e bem conhecidas as quezílias regionais e as disputas – mesmo que a nível diplomático como sucede entre a Alemanha e a Dinamarca, por exemplo – que marcam a vida do continente europeu.

Daí a minha pergunta: O que quis Macron dizer com a “refundação” da Europa? Este não estava, com toda a certeza, a referir-se à necessidade de se traçar, com urgência, um novo rumo para a União Europeia. Isto, porque a União Europeia está longe de ser algo onde somente a França e a Alemanha tem uma palavra a dizer no que à sua condução diz respeito. A União Europeia é hoje composta por 28 Estados-membros e, partindo do princípio de que no seio da UE vigora uma Democracia Representativa, qualquer decisão sobre o futuro da Europa tem de passar por um escrutínio onde a maioria dos Estados-membros ditarão este mesmo futuro, após o terem debatido e votado no local próprio (entenda-se Parlamento Europeu).

Convinha, portanto, que Emmanuel Macron viesse a público explicar a todos nós cidadãos europeus o que quis dizer com isto de “refundar a Europa”. É que a Alemanha já tentou pela força das armas “refundar” a Europa entre 1914-17 e 1939-45 (neste período com a ligeira conivência da França). Não me parece que haja assim grande apetência de todos os povos europeus para que o eixo franco-germânico tente de novo “refundar” a Europa recorrendo – desta vez – à força da economia e da finança. Os resultados de tais tentativas de “refundação” redundaram, em grande parte, numa coisa chamada “Brexit” e na escalada (preocupante e calamitosa) das denominadas forças extremistas que – mais uma vez – ameaçam a paz do Velho Continente.

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