Esta segunda-feira um miúdo de 16 anos esfaqueou 3 colegas e uma funcionária numa escola em Massamá. O miúdo foi detido e no “arsenal” que continha na mochila constavam facas, embalagens de fumos de diversas cores, gás pimenta, frascos de álcool, uma caixa de fósforos e dois isqueiros. Segundo quer parecer, conformo o próprio disse, pretendia imitar um massacre como o de Columbine, embora, segundo uma folha A4 onde tinha o seu “plano”, o objectivo era matar pelo menos 60 pessoas para bater um recorde.
Ok… já voltamos ao óbvio, porque, primeiro, preciso de fazer uma incursão pelas redes sociais. Nesse mesmo dia, após a notícia (e ainda hoje, dois dias volvidos), começaram a surgir os inúmeros comentários nas redes sociais que demonstram a verdadeira ignorância, desresponsabilização e estupidez patente na nossa sociedade, referentes a Massamá, por ser, para os mais desligados da realidade, a localidade onde vive Pedro Passos Coelho. Não vou perder tempo com estes comentários, até porque há coisas mais importantes.
Estamos a falar dum miúdo de 16 anos que teve acesso a materiais que nem alguns adultos deveriam ter, que teve uma ideia diabólica e a pôs em execução. Um miúdo aparentemente pacato, segundo relatos de algumas pessoas. Um miúdo que, segundo relatos, tentou adquirir uma arma de fogo e que, no ano que passou, já tinha sido protagonista de um incidente na própria escola. Estamos a falar dum miúdo e isso deveria fazer-nos pensar.
O problema não está na escola, não está no governo, não está nos cortes na educação, nem em factores externos. Tudo isso apenas serve para ampliar uma situação que começa, verdadeiramente, em casa. Há alguns anos que defendo que existe um excesso de televisão e jogos de vídeo, dominados essencialmente por violência, e muito pouco tempo dedicado a livros e socialização através de jogos e brincadeiras. É excelente que os miúdos tenham um à-vontade muito grande com as tecnologias, mas que tipo de sociedade estamos a criar, se os miúdos só conhecem ecrãs e botões, se o único raciocínio que desenvolvem é de como apanhar o objecto, ou de como matar o inimigo? Miúdos com 5, 6, 7 anos passam o dia na escola obcecados com chegar a casa e agarrarem-se ao iPad e aos jogos, que os pais lhes entregam por 1, 2, ou mais horas para não terem de os ouvir, em vez de se sentarem com eles, falarem com eles, incentivá-los a lerem livros. Vivemos na sociedade da desresponsabilização total, onde as crianças foram um sonho e tornaram-se um acrescento, passando a viver isoladas no seu mundo, que é moldado pelos bonecos à pancada e os jogos de vídeo.
Podem chamar-me conservador, se calhar até sou, mas, neste caso, prefiro mesmo ser conservador a continuar a compactuar com uma sociedade em que (já não é de agora, é de há muitos anos) os pais usam a desculpa do dinheiro, do trabalharem muitas horas para pagar escolas e afins para não dedicarem 1, ou 2 horas do seu tempo aos seus próprios filhos. Se os pais querem realmente o melhor para os filhos, se continuamos a achar, como Fernando Pessoa dizia, que o melhor do mundo são as crianças, então, temos de reflectir, temos de olhar para dentro das nossas próprias famílias, dos nossos próprios lares, das nossas próprias realidades. Infelizmente, vivemos um tempo de “vacas magras”, onde a palavra “crise” é desculpa para tudo, mas que, cada dia mais, os sinais mostram que não é uma questão económica, é uma questão de moral e de educação. Na verdade, é apenas uma questão de Amor.