Frango Frito, Arroz de Tomate e Praia

Ora bem, o tema desta vez é gastronomia. Huumm… Já tentei escrever sobre gastronomia, umas três vezes e, puff, vazio. Não sai nada. Fico simplesmente a olhar para o ecrã, para as letras, para tudo menos para o que interessa.

Eu nem sou cozinheira. Sou só uma rapariga que se desenrasca na cozinha, com memórias de comida da sua infância e, desculpem lá, safo-me muito bem. Não são receitas como as dos chefs de hoje (atenção que não estou a menosprezar) cheias de “conices“, mas é comida. À bruta e com um sabor daqueles. E não, não me perguntem como faço, porque nunca faço igual. Sigo as receitas, mas depois acrescento ou tiro sempre qualquer coisa. Umas vezes corre bem, outras nem tanto.

Já divaguei sobre a Sopa de Chocolate (calma, não era mesmo chocolate, mas, sim, feijão encarnado) da minha avó, que até hoje nunca mais senti sabor igual, ou o Toucinho que o meu avô comprava no talho e depois carregava de sal e, miúdos, para vosso conhecimento, come-se cru e de preferência sem pão. O Caldo Verde feito pela minha tia às 4h da manhã, quando chegávamos dos bailaricos, depois do meu avô “obrigar” a minha avó a cantar o fado.

E as Sopas De Leite com Café como pequeno-almoço? Não, não era mesmo sopa. Era pão em leite com café, mas tinha que ser pão rijo, se não ficava açorda. Ao lanche, havia a bela da Sande com Margarina e Açúcar. Oh, my god, tão bom! Vou arrancar já para a cozinha, mas irá ter o mesmo sabor? Não sei, um dia destes conto como correu.

E o Frango Frito com Arroz de Tomate, Rissóis, Croquetes, que os adultos da minha geração levavam para a praia? Sim, isso era a nossa comida de praia. Imaginam as nossas crianças a abrir a lancheira e não encontrar os iogurtes líquidos, as bolachinhas, os wraps feitos com queijo creme com alface? E sem os pacotes de frutinha?

Bem, a minha família também levava fruta, mas a bela da melancia e o melão iam inteiros. Aliás, eu não me recordo de levar comida embrulhadinha pronta a comer. Os papos secos saiam da padaria dentro do saco de pano bordado. À parte, levava-se o toucinho e, com alguma sorte e dinheiro, um chouriço dos bons. Sumos? Às vezes, lá tínhamos a sorte de ter TANG na lista das bebidas, mas, geralmente, havia um ou dois garrafões de água que eram distribuída em copos de plástico às cores.

Na hora da paparoca, lá se tirava tudo dos sacos e da mini-arca, os mais velhos, com a boa e velha navalha, distribuíam o grande manjar pela canalha. E depois do almoço, vinha o martírio de qualquer miúdo, 3 horas à espera para ir à água, cumpridas religiosamente! E perguntar se faltava muito de 5 em 5 minutos? Não, isso nunca nos passaria pela cabeça fazer. Talvez de hora a hora.

Curioso que, ao lembrar-me disto, ainda hoje o meu pai, quando vai à praia (sozinho, sem a minha mãe) ter connosco, continua a fazer o mesmo. Leva o pão e o que quer pôr dentro dele, tudo separado. Chega a hora de comer, saca da navalhinha e “anda cá que eu não te aleijo“.

Oh, pá! Que recordações! Há quanto tempo não me lembrava destas coisas. E fui tão feliz.

Nota: Este artigo foi escrito segundo as regras do “Antigo Acordo Ortográfico”

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