A nossa principal força, aquela força que não nos deixa desistir de viver, tem de se chamar amor. É quase um lugar comum. No entanto, a verdade é que o amor que sentimos, seja às pessoas, a qualquer coisa metafísica, à arte, ao desporto, ao trabalho ou até mesmo a um animal, faz com que tenhamos um elo com a vida.
Como tudo na vida é feito de ilusões e desilusões, nós precisamos dessa corrente que nos prenda a ela e que faz com que tenhamos uma razão ou um motivo para não desistirmos.
E não é fácil conseguirmos viver sem esse chão que nos sustém na inconsistência de uma vida, onde nada é eterno e tudo muda com uma rapidez considerável. Por essa razão, necessitamos de algo que nos agarre de modo inequívoco a um projeto tão volúvel como é viver.
A minha estabilidade emocional é reflexo de como eu me sinto, ou não, amada. Isto parece simples, mas não é. Aqui o conceito de amor é tão abrangente como o próprio sentimento em si e significa ser aceite, integrada, realizada e segura perante um todo que é todo o universo de pessoas e atividades em que me movo.
A família, quer seja a de sangue ou a que escolhemos para nós, é também o nosso porto de abrigo, mas inevitavelmente também uma fonte e foco de amor. De todas, talvez a mais importante. Há pessoas que se seguram à fé ou a alguma atividade pela qual nutrem uma grande paixão ou amor. O importante é sentir esse consolo e esse amparo.
E quando existe uma quebra num desses elos, quer seja pelas inevitabilidades da vida ou na sequência de alguma ocorrência menos feliz, precisamos que os outros elos sejam firmes e fortes. Precisamos de nos agarrar a um qualquer outro amor, mesmo que seja o amor próprio.
Em jeito de confidência, o que me sustém é o amor que me liga à família, mas o amor que me liberta e me dá aquele equilíbrio tão necessário às minhas rotinas diárias é ler e escrever, deixar correr o sentimento, letra a letra, palavra a palavra, frase a frase, seja em que sentido for: ou interiorizando ou exteriorizando.
A leitura e a escrita são os elos que me seguram à minha constante evolução, quer na procura de novos conhecimentos, quer pelo desafio que é pensar, solidificando uma consciência sobre tudo o que me rodeia. São esses elos que criam as estruturas necessárias para viver e para amar.
Talvez por coincidência, ou não, trago na minha pele duas tatuagens: uma em que as minhas iniciais formam um coração dividido e outra um infinito, como dois elos entrelaçados em corações que simbolizam toda uma corrente de amor que trago em mim, enquanto viver.