Política e não políticos

Um quarto de século quase volvido, após a viragem do milénio, e 48 anos de (suposta) democracia, devem ser suficientes, para uma breve analise à política portuguesa, e simultaneamente aos políticos deste período. Podemos naturalmente, discordar sobre as analises feitas por não especialistas ou por simples cidadãos, na realidade, e nos actuais moldes, a política e as suas ramificações erradamente se entregaram a políticos medíocres, e com isso, profissionalizaram se políticos. A política nunca deveria ser profissão, mas sim um cargo de honra, remunerado claro, mas que se limitasse no tempo e sempre sob controlo da democracia.

Após o golpe de Estado do 25 de Abril e a abertura das lides políticas a um conjunto de usurpadores, a nação quase milenar portuguesa, perdeu a sua soberania, a sua independência e mais importante de tudo, tornou se em uma nação de indigência, de submissão e sem rumo.

Se olharmos hoje ao passado e sem grandes dúvidas se classifica tempo do Estado Novo nos epítetos mais baixos e mais nefastos existentes, deveríamos ter em conta, no entanto, que nesse tempo se ergueram todas as obras que beneficiamos, desde a educação no plano do milénio e a restituição da magnitude da Universidade de Coimbra, até ao Hospital-Escola de Santa Maria, pontes, viadutos e estradas, naturalmente existiam falhas e lacunas, nem tudo era risonho.

Podemos também afirmar, que essa “obra” beneficiou das riquezas das ex-colónias, o que é um facto, mas não podemos esquecer também, a obra feita nessas mesmas paragens.

Mas o importante é a actualidade nacional, é dela que depende o futuro. Após a viragem do milénio, e coincidente com a entrada da moeda única, a economia de Portugal sofreu (e sofre) rombos sistemáticos, não obstante ao facto, na primeira década de 2000, Portugal beneficiou das ajudas comunitárias, com a entrada de volumes monetários na ordem dos 48 milhões euros diariamente (na forma de empréstimos/endividamento), na últimas duas décadas do século XX, o montante a fundo perdido proveniente de CEE, equivaleu a 9 milhões de euros diários.

A pergunta que se coloca, ou que se deveria colocar, é onde está reflectido esse endividamento? Pergunta que ninguém faz, não importa afirmar que se investe na economia, se no resultado prático, só sobra o endividamento. É na realidade o equivalente a comprar uma habitação através do crédito, e nunca efectuar a escritura de posse, sobra-nos o endividamento sem propriedade fruto do suposto investimento.

As políticas económicas em Portugal dividem se em duas frentes, o Estado Social e a ruína pública. Desde a destruição cavaquista das pescas, da agricultura e da indústria pesada, que por força de razão dos políticos, se incrementou o Estado Social (uma doutrina muito explorada pelos socialismo e pela social-democracia), sem se acautelar o crescimento económico, até às mais recentes políticas socialistas do mealheiro sem fundo, casos como a TAP, a REFER e os menos conhecidos Transtejo, Mota-Engil, EFACEC e metropolitanos…

Durante este quase quarto de século, Portugal foi vendido a retalho, com graves repercussões económicas, foi a EDP, a GALP, a CGD, foram os fundos de pensões, desinvestiu-se na saúde, agravou-se o sistema fiscal. Desde 2000, que a taxa de crescimento do PIB português se situa na mediana de 0,47% e a mediana da inflacção se situa nos 1,8%, (o período usado situa-se entre 2000 e 2020, com os valores PORDATA), por seu turno, a dívida pública cresceu no mesmo turno, se em 2000 se situava nos 54.2% do PIB, em 2020 cifrou se nos 134.9%.

Com uma economia a crescer abaixo da inflação e um endividamento na ordem de grandeza actual, nenhum político actual deveria estar em liberdade.

Naturalmente que, na ausência de políticas nacionais, porque simplesmente não as existem, e não vale a pena gastar latim com o conto do vigário que se concebe em Bruxelas, o caminho da nação é sempre descendente. Portugal é um pardieiro de políticos e as suas concubinas, que dentro das paredes partidárias, planeiam os assaltos constantes.

Desde a adesão ao quadro UE, que Portugal perdeu a sua soberania política, e a sua independência, os políticos e as suas organizações partidárias, são a Camorra moderna ao serviço da UE e demais tentáculos supranacionais, pelo que a politica portuguesa de hoje se resume a varias inutilidades, amplamente discutidas na esfera publica e privada, não sendo discutida a essência da política, mas sim o nível de criminalidade para uns, e o nível de ignorância para outros, que se instalaram em São Bento, no Palácio de Belém e no parlamento.

Discutir os Galambas e as suas trafulhices, não é política, é ignorância, não se discutem Galambas, demitem se e prendem se.

Faz falta a Portugal escolas que ensinem, tribunais que julguem e institutos públicos que funcionem, as escolas porque deviam formar mente critica, e não ignorantes letrados, os tribunais que julguem pelo Direito e com o Direito, e não por afinidade, favor ou corrupção, e as instituições públicas, que trabalhem pelo mérito e não pela cor da camisa da camorra no poder.

As políticas são na sua base reformas do Estado, ou deveriam ser, falar sobre política, é arquitectar a resolução dos problemas do SNS, reformando-o e evoluindo-o, não o fecho de maternidades, política é requalificar o sistema de ensino, dotando-o de mérito comprovado e conhecimento fundado, que hoje, é simplesmente miserável, é castrar a verticalidade na justiça, e dotá-la para a horizontalidade e a igualdade entre cidadãos.

Discutir as alterações climáticas, sem perceber primeiro que o planeta é dinâmico, e que o IPCC há 60 anos que luta por provar uma só hipótese do clima, e eles têm paletes de hipóteses, é ignorância da sociedade, discutir o CO2, sem conhecer a paleontologia do planeta, é cegueira.

Discutir a Covid, não é política, é defender um negócio, que por sinal caríssimo para a sociedade abnegada, discutir a guerra no leste europeu, é o maior exercício de deficiência cognitiva societária, a mesma dura desde 2006, e em 2014 iniciaram-se os conflitos armados. Não se pode falar de política em Portugal, e a bem da verdade em toda a civilização ocidental, porque, para se falar de política, temos de estar em democracia. E a democracia ocidental é uma utopia, não existe. A democracia não tem de ser reinventada, tem sim de ser aplicada, mas aplicar a democracia, exige primeiro, conhecimento nas massas, respeito pelo próximo e liberdade de expressão, nenhuma destas premissas existe hoje. Democracia não é destruir uma identidade, uma cultura e obliterar por completo a historia milenar de um povo. Sem democracia, não existe nenhuma política, existe sim, autocratas e os seus planos políticos, e uma sociedade que se negue a fazer política, tem por ordem de escolha, de viver em ditadura, não adianta a uma sociedade o queixume dos planos políticos, se deles continuar a viver.

Os ignorantes letrados, fruto de políticos vendidos, que aplicam políticas de destruição, tornaram o ensino a “casa da doutrinologia”. Os doutrinados agem impunemente na ignorância que lhes é lactente, por sua vez, os pasquim publicitários na forma de “agentes noticiosos”, sob o manto de políticos sem escrúpulos, agem como disseminadores da doutrina imposta.

Enquanto não se resolverem os problemas de base – educação, justiça e políticas de soberania – é completamente inútil falar de política para Portugal, pelo que, o mais próximo será o continuar a falar de políticos, que se constitui na maior perda de tempo possível.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
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