Há uns anos, na época em que os restaurantes chineses ainda estavam na moda, existia no menu um prato chamado “Família feliz”, que ainda se tornava mais divertido quando dito pelo “emplegado”. Era uma combinação de diferentes ingredientes, cores e sabores distintos, que, unidos pelo mesmo molho, faziam o deleite de quem o escolhia. Cada um tinha o seu papel e importância; não seria o mesmo se faltasse algum deles.
Nas famílias também existem uma série de indivíduos diferentes, com características únicas, que estão unidos pelo mesmo sangue. Cada um tem o seu feitio, personalidade, interesses e forma singular de viver a vida. O facto de existirem laços de sangue não faz daquelas pessoas siamesas, nem concordantes em tudo.
Nem sempre as famílias compreendem e aceitam as nossas escolhas. Quando assim é, o que fazer? Cortar com os laços ou mudarmos para agradar?
Há quem defenda que, apesar de geneticamente pertencermos a um grupo, por vezes, o que nos une são os laços de coração, os mais valiosos.
Por outro lado, há quem sustente que a família de berço é a mais importante e nunca deve ser abandonada, nem esquecida.
Então, e aqueles casos em que os familiares abusam dos seus menores? Ou existe violência doméstica? Abandono? Maus tratos e desrespeito? Ou qualquer outro tipo de comportamento doentio, maldoso, traidor e contrário ao esperado?
Não será válido, nesses casos, a consanguinidade não servir para muito? A não ser para tornar a dor ainda maior?
Quantos, se pudessem, não substituíam algum ou alguns membros da família? Quantos fazem de conta que eles nem existem? Quantos dão familiares como mortos, ainda em vida?
No entanto, há seres que se tornam família sem o serem. Pais, filhos e irmãos de diferentes mães. Substituem com grande distinção os herdeiros legais ao título.
Por isso, todos já ouvimos que “pai e mãe não é quem gerou o filho, mas quem o criou.”
Alguns amigos tornam-se tão chegados, que ganham um lugar no coração. E, não será aí que os laços falam mais alto?
Afinal, do que adianta termos o mesmo sangue, sermos da mesma família, mas não praticarmos a bondade, a aceitação, o perdão e o amor?
A família é deveras importante, mas, mais ainda, não será podermos ser quem somos?