Fake Famous – Review

Antes de começarmos deixa-me fazer-te uma pergunta. Queres ser famosa/o? Então, anda daí e, se respondeste que sim, que queres fama, no fim de leres esta review diz-me se ainda a pretendes ter.

Ah! Já me esquecia, fica aqui o aviso de que *PODE CONTER SPOILERS*, não me responsabilizo se continuares a ler.

Todos nós temos aquela amiga ou aquele amigo que sonha alcançar a fama e ser conhecido nem que seja para as marcas lhe oferecerem artigos ou para ir comer à borla em algum restaurante que em troca faz uma publicidade medíocre. “Hoje vim almoçar a este maravilhoso restaurante” ou “o spot da noite é aqui”, por aí fora…

Será que as viagens e a vida destas pessoas são mesmo assim tão glamorosas? Será que o número de seguidores é real? Serão os comentários e os “likes” nas fotografias reais? Eu já desconfiava que havia algo por de trás dos números dos seguidores, mas nunca pensei que fosse da maneira que é, mas vamos por partes.

O documentário que te trago hoje teve a sua estreia no canal de streaming HBO a 3 de fevereiro deste ano (2021). É escrito e realizado pelo jornalista Nick Bilton e passa-se em Los Angeles.

 

Curiosidade: Vocês sabiam que há quem viaje para Los Angeles (as viagens chegam a custar cerca de 2.000 dólares aos “famosos”) somente para tirar uma fotografia ou selfie numa determinada parede cor-de-rosa. Sim, uma parede somente cor-de-rosa. Não, não tem nada desenhado. A parede é a fachada da loja “Paul Smith”. Está explicado, não é?

Estou a pensar pintar uma parede da minha casa com uma qualquer cor a ver se ganho uns trocos com os famosos das redes sociais (risos).

 

Este documentário conta a experiência de três voluntários que responderam a uma entrevista de “emprego” que tinha por base torná-los famosos e os iria ajudar a obter milhares de seguidores nas redes sociais. Oh, sim, vamos contar histórias. É assustador a quantidade de pessoas que responderam ao anúncio, cerca de 4000 pessoas. Se fosse para lavar escadas, nem 200 apareceriam.

Dentro dos 4000 candidatos, apareceram pessoas das mais variadas áreas, como jogadores profissionais de basquete, cantores, atores, animadores socioculturais, músicos, entre muitos outros. Contudo, o que é que ajudou na escolha do trio? Foi mesmo o baixo teor de aptidões.

Neste documentário, ficamos a conhecer Dominique Druckman, uma a aspirante a atriz que antes de iniciar a experiência tinha 1100 seguidores, e Chris Bailey, que se diz desajeitado em todas as situações possíveis, como na escola e em todo o lado, é estilista, faz as próprias roupas e conquistou-me com algumas atitudes que teve durante todo o processo, como por exemplo quando lhe perguntam se ele quer ser famoso, ele responde: “Toda a vida disse que queria ser famoso, mas agora acho que já não é querer. Acho que mereço, sabem? Preciso que sintam isto. Que sintam como é o carisma e a paixão a sério. Isto não é nenhuma encenação”. Não faz ideia de quantos seguidores tem. Também temos Wylie Heiner, o assistente imobiliário que é também moço de recados do patrão e tem 2443 seguidores. Definitivamente têm muito mais seguidores que eu.

Ao longo do documentário, vemos como são feitas as sessões fotográficas. Existe uma equipa que ajuda a orquestrar a encenação de grandes vidas. Algumas pessoas alugam uma maquete de avião para parecer que estão num avião privado, mas os menos providos de dinheiro usam mesmo o tampo de uma sanita e um wallpaper na televisão.

O mais escandaloso vem agora. Há quem entre na Deep Web (para quem não sabe o que é a Deep Web é somente o lado mais profundo e negro da Internet, onde se vende de tudo e se compra de tudo) para comprar seguidores, comentários e “likes” em fotografias. Sim, quando uma miúda gostosa, linda, alta, super “fashion”, de um país lá longínquo comenta a fotografia daquele jeitoso e tu sabes que nunca a viu, desconfia, porque pode ser um seguidor comprado. Em Portugal, cada pack de 200 seguidores pode custar 8€. No entanto, 200 seguidores é pouco. Só se é famoso nas redes sociais se os seguidores passarem os 100.000, então, imaginem o dinheiro que esta gente gasta. Porque depois não chega ter só seguidores, tem que haver interação visível e toca a gastar mais uns trocos para comprar “likes” e comentários por fotografia.

Agora pergunto eu, em vez de andarem a comprar “fama” para terem as coisas de forma gratuita pelas empresas de maquilhagem, perfumes, roupa, malas, sapatos, viagens, refeições em restaurantes de luxo, hotéis, ginásios e afins, se pegassem nesse dinheiro que gastam nas falsidades, como sessões fotográficas, alugueres de vivendas, alugueres de maquetes de aviões, de todo o staff de produção, entre outros, e o usassem para fazer como os comuns mortais e pagassem, não seria melhor? Incutir vidas assim às pessoas não é nada saudável. Há pessoas que têm problemas de autoestima, há pessoas que se sentem inferiores e deprimidas por não conseguirem alcançar o que estes famosos alcançam.

 

Dica: quando vires uma legenda ou até mesmo localização em uma fotografia destas pessoas desconfia e vai pesquisar se existe mesmo um evento, um quarto, um spa, se a vista é mesmo aquela, ou se o local tem piscina e jardim.

 

O Wylie ainda faz algumas sessões fotográficas, mas, com a pressão do patrão sempre ao telefone e a ter que fazer todos os recados para os quais é destacado, ou seja, trabalha, tem uma vida que se pode chamar de normal, acaba por deixar de ter a conta do Instagram pública e desiste da experiência por ter muita pressão.

A Dominique leva o “trabalho” a sério, aceita todos os seguidores que lhe são oferecidos pela realização do documentário, assim que atinge um determinado patamar de números de seguidores, a realização começa a contactar marcas a apresentar a “Influencier”. Passado uns meses recebe um convite para uma “road-trip” com a duração de um fim-de-semana com mais umas quantas bloggers, para sessões fotográficas e para uma “feira” do género da nossa Exponoivos ou a Expobeauty. Onde se vão dar a conhecer aos empresários ali presentes, mas  alguns deles não lhes ligam um pepino.

Quando o fim-de-semana acaba, Dominique diz toda feliz e contente que se habituaria àquela vida. Então, continua com a falsa vida.

Contudo, eis que a pandemia chega aos Estados Unidos da América e entram em confinamento. Dominique apercebe-se que a maior parte dos “Influencirs” continua a mostrar uma vida falsa, continuam a publicar só viagens e passeios. E Dominique desiste de fazer parte da experiência e diz que não quer ser associada a este tipo de pessoas. Tardou, mas viu os bastidores daquele mundo, apesar de ainda hoje manter os seguidores comprados pela produção do documentário. Está neste momento com 352.000 seguidores (conseguiu 350.900 seguidores a mais desde o início do documentário).

Por fim, temos Chris. Chris desde o início que se mostrou um pouco contra a compra de números. Ainda fez umas sessões fotográficas reais com um amigo personal trainer, o que lhe rendeu uma ida gratuita a um ginásio, claro que em troca de publicidade. Quando a realização do documentário lhe começou a comprar seguidores, “likes” e cometários, ele simplesmente os eliminou. Chris diz que se tiver que ser famoso, que seja às suas custas e pelo reconhecimento da sua arte de criar roupa. Inclusive Chris recusa-se a fazer a sessão fotográfica na maquete do avião. Foi assim que se tornou no meu herói do documentário.

É incrível o número de pessoas que querem ser famosos em todo o mundo. Chegam a fazer procedimentos estéticos, porque o namorado ou o crush comentou que tal “Influencier” tem o peito melhor ou os glúteos perfeitos (gostaria que me dissessem qual é a definição de corpo perfeito, porque, para mim, o meu corpo é o perfeito). Chegam a contrair dívidas, porque quiseram fazer a viagem que tal pessoa famosa das redes sociais sugeriu.

No documentário, até o próprio realizador se sentiu tentado e influenciado a fazer o que essas pessoas sugeriam. E no final diz:

Tenho a esperança de que as outras pessoas deixem de os seguir como eu fiz. Que percebam que seguir estes “Influencers” não os faz sentirem-se melhor. Não os ajuda a ter uma vida melhor. Faz exatamente o oposto.

Eu faço das palavras de Nick Bilton as minhas.

Ainda me assusta mais a quantidade de crianças que nos dias que correm dizem querer ser “Influenciers”, querem ter muitos seguidores das redes sociais, famosos influenciadores, ser uma das Kardashian/Jenner. O pior é haver crianças com 10 anos ou até menos com contas de redes sociais e já postam vídeos de maquilhagens e afins. Antes que me julguem pelo desconhecimento, como podem ver na minha biografia, eu tenho um filho de 10 anos e não tem qualquer autorização para ter qualquer tipo de rede social.

Vejam este documentário, pessoas de todas as idades, porque esclarece bastante a face oculta das pessoas com corpos perfeitos, com vidas perfeitas, com relações amorosas perfeitas, que passam a vida a publicar fotografias de viagens e a realidade é que no final do dia compram a fama. Vamos legalizar os corpos normais, vamos apoiar os trabalhos reais, vamos valorizar quem temos ao nosso lado ou que se esforça para que não sejamos invisíveis.

Deixo-vos duas citações que retratam a realidade de o que é ser famoso nos dias de hoje: “Dantes, a fama devia-se a certas peripécias e talentos como representação, música, desporto.” e “Agora há um novo tipo de fama, onde se é famoso, graças a um número”.

Sinceramente eu continuo a atribuir o rótulo de famoso a quem tem aptidão e talento e não a quem se resume a ser seguido por números.

Espero que vos tenha ajudado.

Por hoje é tudo! Grata por terem lido.

Nota: Este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.
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