Recebeu um convite para fazer parte de um ministério que há de vir por parte de João Cotrim de Figueiredo, que foi mais um candidato e convidado do programa que se preparou à altura do acontecimento. Como o próprio afirmou, se todos se fazem munir de programas ou orçamentos de Estado (qual anúncio das televendas que quer dourar números, défices e inflações), ele, Cotrim Figueiredo, queria também estar à altura. À altura dos restantes adversários de campanha ou dos anteriores convidados do programa?
A última hipótese convence-me desde logo: todos parecem preocupar-se mais com a sua performance como ilustres convidados de um brilhante Ricardo Araújo Pereira do que com a sua prestação nos debates para as legislativas. Compreende-se. Isto é Gozar com Quem Trabalha empolga mais do que um debate político, mais ainda quando o anfitrião parece combinar três aspectos que jamais convergem nos malfadados debates: inteligência, humor, elegância. Naturalmente, quem lá vai, puxa dos seus galões para estar à altura. E que altura.
Joao Cotrim de Figueiredo até o dito comprimido azul levou para o programa, e não me atrevo a dizer que a alusão feita tenha sido despropositada, estando, no humor, o convidado nivelado com o anfitrião. Parece agora, já sem perigo, que isto é campanha para Cotrim Figueiredo! Bom só se for no domínio dos melhores convidados do programa no âmbito das legislativas porque, realmente, nesse papel, esteve muito bem. Aliás RAP equipara-se ao Daniel de Oliveira, que puxa do melhor que as pessoas têm no programa que questiona sobre o que dizem os seus olhos, pondo o desprevenido espectador a simpatizar até com quem nutria antipatias de estimação. Pois, engalanando-se para estarem a altura de Ricardo Araújo Pereira, gozando com quem trabalha, os candidatos até parecem melhores. Mas não se deve só ao apresentador, não! Já Rui Rio havia preparado uma caricatura encadernada ao Orçamento de Estado e João Oliveira havia, sem surpresa, levado ao programa um número do jornal d’O Avante, contudo essencialmente prepararam-se em termos de substância. Não apareceram sem a lição estudada, como parece acontecer-lhes noutras ocasiões.
Alinham-se como se este fosse o ponto alto da campanha eleitoral. E será que não foi? Questiono-me se a capacidade de encaixe e boa disposição que cada convidado revela ali não poderá arrancar mais votos do que debates enfadonhos e repetitivos, cujo lançamento de farpas despropositadas e falta de objectividade nos remete, com mais ou menos assombro, para o nacional e pouco convincente recinto político.
Estás em grande, RAP. Não que não o mereças. Mereces certamente, e muito. Até penso que, se fosses para ministro, farias melhor trabalho do que muitos que já lá estiveram e para lá irão, mas não acredito que vás tão depressa. Se acumulas nessa generosa altura a inteligência, o humor, a elegância, de qual estarias disposto a abdicar para encaixares no perfil pretendido?
Não me parece haver maior reconhecimento ao teu trabalho e, afinal, ao teu poder de comunicação connosco, povo, audiência, do que vermos, em plena campanha, os convidados prepararem-se de forma quase exemplar, alguns com distinção, reconheçamos, para cumprir o seu papel de dignatária visita do teu programa.
Devo antecipar a minha desilusão, mas se te decidires candidatar, voto em ti.