Educação pela arte

A escolaridade obrigatória em Portugal abrange as crianças entre os 6 e os 18 anos. Além de obrigatória, é universal e gratuita. Já a educação pré-escolar é universal e compreende as crianças a partir dos 4 anos. Desta forma, os mais jovens estarão enquadrados pela frequência das estruturas educacionais pelo menos durante 12 anos.

Uma componente desse ensino diz respeito à Educação Artística, presente na matriz curricular da educação pré-escolar e do ensino básico. Contempla as artes visuais, a dança, a expressão dramática/teatro e a música. O objetivo é implementar “estratégias que valorizam a arte como forma de conhecimento, estimulando a inovação de práticas pedagógicas, transversais e agregadoras, através de um plano adaptável às características das comunidades educativas”.[1] É reconhecida como legítima e fundamental na construção integral do indivíduo.

As atividades que permitem explorar a Educação Artística podem ser realizadas dentro da sala de aula ou fora dela, nos espaços exteriores da escola ou mesmo num espaço ainda mais alargado, nas apetecíveis visitas de estudo. Para tanto, educadores e professores, têm formação disponível, para que potenciem as aprendizagens que eles próprios fizeram nos cursos de formação de educadores e professores, bem como aproveitem as suas experiências e gostos pessoais. Existem, também, em muitas escolas, centros de tempos livres ou noutras instituições providenciadas pelos encarregados de educação, atividades extracurriculares que abordam a temática.

Teoricamente, tudo parece perfeitamente enquadrado. Contudo, basta conversarmos com amigos, vizinhos, colegas de trabalho com crianças e jovens em idade escolar para verificar que as ofertas são bem mais reduzidas, sobretudo se consideramos as escolas públicas. Por norma a educação musical está assegurada, assim como algumas áreas das artes visuais como o desenho, a pintura, a cerâmica.

O conceito de educação pela arte remonta a meados do século XX e o seu grande teórico foi Herbert Read. No seu livro Educação pela Arte defende que a arte deve constituir a base da educação, apontando caminhos para a sua aplicação. Segundo este autor, cumprindo-se este pressuposto, encontra-se garantido o desenvolvimento estável e harmonioso da personalidade da criança. A arte surge como uma forma de expressão de sentimentos, de melhor compreensão do mundo e da forma como interagimos com ele.

Por outras palavras, expõe as crianças e os jovens a outras realidades, “abrindo mentes”. Ao promover a aprendizagem baseada na criatividade, na liberdade de expressão e na experimentação de novos caminhos e técnicas, abrem-se portas ao desenvolvimento do sentido crítico, imaginação, memória, lógica, poder de análise, síntese e de reflexão. Por exemplo, está comprovado que a aprendizagem da música entre os 5 e os 6 anos estimula o desenvolvimento da zona cerebral que está preparada para trabalhar a abstração. Outras atividades que impliquem movimento do corpo, como a dança e o teatro, desenvolvem a coordenação motora, a disciplina, a capacidade de concentração e a memória.

Ter acesso a uma educação artística garante à criança e ao jovem o desenvolvimento de competências essenciais para a vivência num mundo complexo, plural e multicultural como aquele que hoje conhecemos. Possibilitam não só o contacto com diversas manifestações culturais, como o a apreensão de valores como o respeito, a tolerância, a aceitação da diferença.

A arte poderá ser também uma forma de integração de crianças e jovens, assim como uma forma de combater a discriminação e a marginalização dos mesmos. Ao permitir o acesso a contextos de aprendizagem que poderiam, à partida, parecer inacessíveis, proporcionam-se novas experiências e abrem-se horizontes. Tome-se como exemplo a Orquestra Geração, “um projeto inovador em Portugal e na Europa, com foco no desenvolvimento social através da música. Tem como objetivo facilitar o acesso à prática de orquestra a crianças e jovens. Inspirado no “Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela”, o projeto enfatiza o esforço coletivo como fator-chave para a motivação para o trabalho em equipa, promovendo valores como cooperação, rigor e respeito pelos outros.” [2]

Resumindo, a educação pela arte é forma de educar baseada no pressuposto da aprendizagem lúdica, tendo como a exploração os diferentes campos artísticos, por forma a proporcionar um desenvolvimento de competências cognitivas, pessoais e interpessoais, que visem a formação de um cidadão do mundo.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico


[1] http://educacaoartistica.dge.mec.pt/#O-Que-Fazemos

[2] https://educa.cm-amadora.pt/pt/educa-programas/orquestra-geracao

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