As redes sociais são um mundo extraordinário. Na verdade, são a junção de vários caminhos que se cruzam e que fazem sentido para muitos. Quantas pessoas estão sós e conseguem alguma companhia com os chamados amigos virtuais? Quantos acabam por se conhecer e ter uma relação verdadeira que se prolonga? Quantos são enganados com falsos perfis? Quantos gravitam neste espaço onde tudo é permitido sem consequências de maior?
Assim é ele, um mundo gigante onde cada um pode ter a identidade que quiser. Não há necessidade de cartão do cidadão nem de normas que possam restringir os comentários, que são soltos por dá cá aquela palha. A liberdade é total. Cabe a cada um usar o bom senso para perceber com quem está a lidar. É também aqui que se encontram prosas e poesias que fazem pensar. Criam-se grupos que gostam e outros que atiram pedras para matar.
Na verdade, quando se trata de agredir, a facilidade com que tal acontece é tão rápida que nem é preciso tempo para pensar. É ver soltar palavras ofensivas que incluem gerações anteriores e que acabam por demonstrar a essência de quem as gosta de atirar. Tudo é sentido de vários pontos de vista, mas o papel de vítima é sempre o que ganha destaque. Somos um país de gente tão, mas tão coitadinha, que até dá dó.
Mas, esta tremenda adversativa que muda o rumo do discurso, chega com pompa e circunstância. Cada um escreve o que gosta ou que quer oferecer aos outros e, num golpe de pura magia, a cópia é feita por alguns, passando a ser nova propriedade intelectual. Quer isto dizer que roubam os artigos, os textos, as crónicas e tudo o mais e passam a ter o nome do ladrão. Há casos em que apenas brilham nas redes, com palmas e muitos olés, como se a tal tourada tivesse mesmo cornos e touros. Outros são levados para revistas e pagos como se o trabalho fosse de quem o apresentou.
Chama-se a isto plágio e é muito comum no nosso país. Pensar, saber ler e escrever são hábitos que se perdem e os que ainda os praticam correm o sério risco de serem tidos como doidos. A criatividade é um dom que deve ser cuidado e incentivado. Nunca pode nem deve ser roubado. Acontece com tal leveza que até dói só de o pensar. Escrever exige que se conheça a língua, o vocabulário, a semântica e a sintaxe. Levar o que os outros elaboraram é tão leviano como indecente, chega a ser pornográfico de mau.
O infrator, quando abordado sobre a sua falta, que faz? Vitimiza-se, insulta o autor, ou quem lhe pede que coloque o nome de quem “pariu” a obra, chegando a ser violento e mal-educado. Depois bloqueia a pessoa e difama quem é espoliado. Linda atitude, mas na realidade é o espelho do seu caráter. Quem rouba aos outros é capaz de tudo.
Costuma-se dizer que o que custa é a primeira vez. Aplica-se a tudo. Assim como com a vergonha, que é o que se perde quando se pratica um ato pouco digno, ou melhor, nada tem de dignidade. Infelizmente os marginais, e não de notas, acabam por ser os vencedores e a sua glória é grande até ao dia em que se sabe o que fizeram. Depois aparecem as desculpas esfarrapadas e fica tudo na mesma.
Mirando de outro ângulo até se pode pensar que é uma forma de elogio, mas é falso. Tão falso como quem é capaz de andar de cabeça erguida e sorri, vai em frente e aperta a mão dos outros a agradecer o que não fez. Não são apenas os políticos que reivindicam como suas as obras dos outros, há uma miríade de gentes que não se coíbe de o fazer. A luz está do seu lado e a escuridão não os consegue vencer.
Originalmente a palavra, de origem latina, era usada para se referir ao ato de sequestrar uma pessoa livre para a vender como escrava. Nos dias de hoje o significado tem uma certa analogia, pois, grosso modo, implica um ato de fraude, mas de autoria. Sem a autorização de quem escreveu, a publicação de textos, artigos, crônicas ou contos, é um crime e tem uma implicação jurídica, o que muitos não querem saber.
O plágio tem sido sempre controverso e a música e a literatura são os campos mais visados. Os Beatles foram acusados de plágio com a sua famosa música “Come Together” e Morris Albert sofreu a mesma circunstância com o grande sucesso, Feelings. Mais recentemente, os Radiohead, viram a sua música “Creep”, ser alvo de contenda.
J.K. Rowlings não escapou a este tema. Harry Potter e o Cálice de Fogo, esteve no dito, mas em sistema cruzado, pois é natural que certas pessoas sejam visadas quando ganham algum destaque no meio em que circulam. Paulo Coelho, com o livro Alquimista, recebeu as mesmas palavras. Neste caso, posso ter uma opinião fundamentada, mas, vale o que vale, o que não invalida a continuidade da escrita do autor.
O plágio apenas é amigo de quem não sabe escrever, pesquisar, elaborar, criar. Cada ser é único e irrepetível e a criatividade de cada um dá-lhe o estatuto de ser peculiar. Podem existir pensamentos similares, o que é natural e até bastante saudável, mas tudo ser igual, sem que uma pequena e tímida vírgula se consiga movimentar num texto, é sinal de que alguma coisa não está bem.
Só os fracos de mente e de pensamento são capazes de levar o que é parte de outros, da sua mente, do seu esforço e da sua vontade, para colocarem numa capa dourada, bordada de mentiras e de falsos testemunhos, como se fosse a mais bela de todas e que tornasse esse ser perfeito e inimputável.