24 horas sem tempo

Um dia tem vinte e quatro horas. A queixa pela falta de mais horas por dia será mais uma desculpa ou uma má gestão do tempo? É real a justificação, ou seja, a maioria das pessoas queixa-se desse mal: não conseguem gerir o que têm para fazer num período de tempo dito normal.

Há muito e pouco a dizer sobre o tempo e perdemos demasiado tempo a pensar e a falar sobre o assunto. Esse desperdício também nos rouba tempo de espera, para vivê-lo. Não querendo levar a palavra à exaustão, a verdade é que o tempo passa e não se desfruta tanto como se pretende. Isto, porque não sabemos gerir as nossas prioridades,temos demasiadas exigências para serem saciadas em 24 horas, não delegamos as nossas próprias tarefas e procrastinamos em demasia e depois usamos desculpas para esse feito. Existem inúmeras razões para sermos assim, humanos ambiciosos perante a nossa imperfeição.

O que significa ter tempo?

A resposta é tão pessoal como intransmissível: depende dos meus valores, prioridades, calendarização de tarefas, resiliência e persistência.

Há quem prefira disponibilizar tempo para ler um livro e há quem necessite de tempo para estar deitado no sofá a relaxar. Ou vice-versa: há quem necessite de tempo para ler um livro para um trabalho e há quem possa disponibilizar tempo para relaxar no sofá. São perspetivas diferentes, mas o verbo necessito de tempo ou posso disponibilizar tempo, já por si descreve o tipo de pessoa que o exerce. Então, não somos todos iguais e a utilização do tempo não poderia ser a mesma. E o dia só tem vinte e quatro horas…

Mudando o tema, vivemos hoje um processo de aceleração nunca antes vivido. Excesso de informação digital, excesso de pressão social, stress no meio laboral, incompatibilidades no seio familiar: geram incoerências no individuo – quer fazer, mas não consegue, quer estar, mas não tem tempo, acelera o ritmo cardíaco e não é para melhorar o cardio fitness de ninguém

Caminhamos rápido, respiramos depressa e não entendemos essa dinâmica porque: não temos tempo para tal.

Antigamente comprávamos cassetes para ouvir música em família e toda a gente dançava em conjunto. Havia tempo nesta altura?

Hoje ligamos o Spotify e comentamos sobre música sem desfrutar da melodia, por falar nisso existe cada vez mais melodia para opinar do que para sentir e ouvir, enquanto apanhamos o autocarro ou a escrevemos um e-mail e desculpamo-nos com… A falta de tempo.

Tomamos café com um amigo, “ligados” ao telemóvel a “checkar” o que fazem os amigos virtuais, regressamos a casa e nem demos conta do que poderíamos ter feito com aquele tempo: a ligação, a conexão com o outro já se perdeu, há muito… Tempo!

A “des-culpa” é de quem?

Não se vive, sobrevive-se. A culpa é da lua, do aquecimento global, da economia ou da falta dela, do governo e da falta de tempo.

Eu exalto aqui a necessidade de reflexão sobre o que se pretende obter nesta caminhada que é a vida: quais os objetivos planeados? O que falta fazer? O que se sente hoje?

A culpa não é da tecnologia, nem das redes sociais, nem do que o outro tem e que me afeta diretamente.

A culpa é minha. E é tua.

Para mudar isso, basta querer, existem ferramentas: para ajudar a reorganizar quem tem falta de tempo genuíno para gerir tarefas; para refletir sobre valores e áreas da vida que necessitam de mais atenção e reformulação pessoal.

Só não existem ferramentas que nos ajudem e ensinem a sentir. Isso depende de nós. E para melhorarmos a forma como sentimos, tempo de desacelerar o nosso processo de pensamento para não envelhecermos mais rápido.

A mente e o corpo agradecem, as nossas emoções farão melhor o seu trabalho e o nosso círculo de influência social também.

Isso remete-me a fazer o mesmo.

3…2…1

Plug out.

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