As festas de fim do ano remetem para o imaginário dos concertos de ano novo e das valsas vienenses.
Este ano, no mês de Outubro, Londres assistiu ao renascimento dos seus tradicionais bailes, em particular o baile Rainha Charlotte. Este acontecimento, actualmente com o objectivo de angariação de fundos para obras de solidariedade social, foi introduzido em 1780 pelo Rei George III (1838-1820), para celebrar o aniversário da sua mulher, a rainha Charlotte (1761-1818), de origem alemã. Nessa época, o baile fechava a época em que a aristocracia abandonava Londres no início da Primavera, ausentando-se para as suas casas de campo. Era um importante ritual de passagem para as jovens raparigas aristocratas, entre os 17 e 20 anos, através do qual eram apresentadas aos monarcas e a toda a sociedade. Essa apresentação permitia-lhes tomar contacto com os seus possíveis futuros maridos e alimentar o mercado matrimonial da sociedade elegante de então.
A apresentação aos monarcas continuou até 1958, altura em que a Rainha Isabel II decidiu terminá-lo. O Príncipe Philip, o marido da Rainha, considerava o ritual demasiado elitista, mas, pelo contrário, a sua cunhada, a Princesa Margaret julgava que até mesmo raparigas de moral duvidosa tinham acesso a um evento que se desejava restrito. O baile em si acabou por terminar a partir de 1976, por ser entendido como um anacronismo, mas também pelos excessos que os loucos anos 60 e 70 tinham trazido para os hábitos culturais e de consumo dos jovens.
Em 2007, o baile voltou a ser organizado, graças à intervenção de Jenny Hallam-Peel, antiga advogada que dirige uma empresa intitulada The London Season, que terá cumprido os últimos desejos de Peter Townend, antigo editor social da revista Tatler, já falecido, que lhe teria pedido para manter viva a tradição. Por essa razão, todos os anos, Hallam-Peel recruta entre 20 a 30 debutantes em diversas escolas privadas de Londres.

Rainha Charlotte (1761-1818), c. 1781
No início de cada ano lectivo, pais e potenciais debutantes são convidados a uma selecção em Boodles, St. James, sendo as escolhas baseadas no interesse das candidatas em acções de solidariedade e beneficência que esta instituição organiza ao longo de todo o ano. As seleccionadas recebem formação ao longo de todo o ano, não só de aulas de etiqueta, mas também em eventos de caridade, terminando com um baile, no qual se apresentam de branco e adornadas de jóias. Quer vestidos, quer adereços, são gentilmente cedidas por famosas casas de alta-costura e joalharia. Não se pretende, como antigamente, conseguir um casamento favorável, mas a oportunidade de desenvolver confiança social e impulsionar as suas carreiras profissionais. Cada bilhete de entrada para o baile rondará as duas mil e quinhentas libras.
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