A vida é feita de polaridades, mas ensinam-nos desde o berço que só devemos considerar válido o lado positivo. O outro lado, o negativo, é para esconder. É mau, tudo o que é mau, sabemos bem, não existe ou não deveria existir! Mas não é assim, pois não?
A felicidade e a infelicidade são duas faces da mesma moeda, igualmente necessárias. Só valorizamos a felicidade, porque sabemos o que é estar triste, o que nos faz sentir infelizes. Só suportamos a dor e a infelicidade, porque sabemos que é passageira e que existe o outro lado. Vivemos para isso, para superar os momentos mais duros por termos este conhecimento, que passa e que lá mais à frente a felicidade vai estar à nossa espera.
O mesmo se passa com a derrota e com as vitórias. Ganhar, triunfar, chegar ao topo é bom, todos queremos e fazemos questão de mostrar ao mundo o que conseguimos alcançar, já quando perdemos, sentimos vergonha, medo, descrédito, tristeza e somos as piores criaturas acima da terra. Foi assim que nos educaram, nesta sociedade onde a competição está instituída como normal, saudável e recomendável, onde só se valoriza a vitória e a glória. Pior! Faz-se questão de espezinhar os derrotados, cilindrá-los de modo a que fiquem a sentir-se como lixo. Perder é péssimo, só os fracos e falhados perdem! Ninguém quer fazer parte deste grupo…
É duro perder, não é fácil aceitar, sim, é verdade, mas é importante para não nos acharmos os melhores de tudo e os suprassumos do universo. Quando perdemos, limamos arestas, faz-nos pensar no que falhou e porquê, também nos diz que o outro é melhor que nós, e não tem mal nenhum nisso, ele/a foi melhor e, por isso, mereceu ganhar.
Devemos encarar a derrota da mesma forma como encaramos uma ferida na pele. Ficamos com mazelas, quando nos esforçamos ou quando temos algum desaire, mas vamos à luta, damos o corpo às balas, tentamos. Quando nos apercebemos que temos uma ferida ou um aranhão, limpamos e tratamos e aguardamos que a pele se volte a regenerar. Com a derrota fazemos igual, assumimos que perdemos, refletimos sobre o que correu mal, reorganizamo-nos – “limpamos a ferida” – e, se acharmos que vale a pena, voltamos a tentar.
É um desperdício de oportunidade não sabermos viver a derrota como ela merece, como uma lição de vida, e as lições de vida, como sabemos, não são fáceis, mas são necessárias. Estamos sempre a tempo de mudar mentalidades, não é nenhum crime contra a humanidade perder, é sim um crime não tentar, mesmo que seja para perder novamente.