Foi em Junho de 1985 que Portugal aderiu à Comunidade Económica Europeia (CEE). A partir desse momento, viveu um período de progresso e de desenvolvimento, mas a estagnação económica, o encerramento de muitas empresas e o aumento do desemprego chegaram e a crise não tardou em instalar-se.
Pouco depois da Revolução de Abril, as crispações políticas e as dificuldades financeiras eram parte da realidade portuguesa. Então, perante este período de dificuldades, a integração na CEE apresentou-se como uma solução. A internacionalização, através da inserção na comunidade europeia, foi a fórmula mais satisfatória encontrada por Portugal para responder às necessidades imediatas da modernização, à abertura da sociedade, à sua democratização e reinserção na economia mundial, refere o autor do livro Portugal Hoje, Eduardo de Sousa Ferreira.
Com esta entrada na Comunidade Europeia, começaram a soprar os primeiros ventos de mudança, que trouxeram ao país, de imediato, vantagens. Cresceu o número de empresas, aumentou o produto interno bruto, diminuiu o desemprego e melhoraram as condições de vida. Além disso, os fundos estruturais europeus foram um factor decisivo para o desenvolvimento económico, quefoi acompanhado por um aumento significativo do comércio internacional. Foram os “ volumosos fundos estruturais da União Europeia que suportaram o financiamento de investimentos públicos e privados com impacto nas estruturas económicas e sociais do país”, de acordo com a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS). Além disso, a modernização da economia e da sociedade trouxe o acesso praticamente generalizado à satisfação das necessidades básicas da população, bem como um aumento substancial dos serviços de lazer e de cultura. Estes anos de união entre Portugal e os vizinhos europeus “conduziram a população portuguesa a um nível de vida, material e imaterial, bem superior ao que conhecia antes da plena integração europeia”, diz a FFMS.
No entanto, com os ventos de mudança não chegaram unicamente vantagens e os aspectos desfavoráveis foram-se tornando cada vez mais evidentes. O sector exportador português acabou por ser um dos afectados com esta união, entrando as exportações nacionais em colapso, devido à queda das cotas de mercado dos produtos portugueses e à entrada facilitada de empresas espanholas em sectores estratégicos de Portugal. Mais tarde, com o alargamento da União Europeia, a concorrência interna dispara em Portugal. Então, a partir de 2002, as consequências tornaram-se catastróficas. O desempenho económico de Portugal tornou-se cada vez pior e a crise acabou por se instalar. Segundo a FFMS, a economia portuguesa começou a cavar a sua actual crise de competitividade, quando não foi capaz de equilibrar os movimentos de investimento no exterior e de captação de investimento estrangeiro, ou de transformar a baixa histórica dos juros e da inflação.
Contudo, a integração na Comunidade Europeia abriu as portas ao desenvolvimento e foi apoiada por muitos portugueses. De acordo com o Eurostat, 63,5% dos inquiridos, na altura da adesão, eram a favor da entrada na CEE e, em 2009, 52% dos questionados consideravam a integração positiva para o país. A opinião pública parecia até então ser favorável. A crise de 2008, no entanto, trouxe consigo questões sobre os benefícios desta aproximação de Portugal aos países vizinhos e, hoje, muitos são os portugueses que acreditam que, em Junho de 1985, foi cometido um grande erro. Será que são esses os portugueses que têm razão? Será que Portugal fez bem em aderir à Comunidade Europeia?
A realidade é que hoje, como refere o presidente da FFMS, António Barreto, “depois de se ter aproximado da Europa, Portugal afasta-se: quase todos os indicadores o afirmam. Depois de um desenvolvimento com vigor e energia, a estagnação ou mesmo o retrocesso são as realidades actuais. A esperança transformou-se em dívida”. A liberdade, o desenvolvimento e a cultura eram os sinónimos de Europa, nas décadas de 60 e 70, e era isso que Portugal procurava. Então, em 1985, a barreira política, social e cultural eliminou-se e o país juntou-se aos vizinhos, alcançando o seu objectivo, e esta união deu origem aos primeiros presentes. A sociedade, a economia e a cultura viveram tempos de mudança e de progresso, mas a economia acabou por não cumprir, a dependência do exterior e dos credores tornou-se numa realidade, o desemprego aumentou e a emigração está de volta.