Vivemos atropelados pelo tempo e sentimos a sua volatilidade quando olhamos para trás (e para o espelho).
O envelhecimento, embora seja natural, dá a certeza da nossa finitude.
É uma questão que vai muito além da estética embora sejamos domesticados dessa forma.
Numa sociedade onde se consome a imagem é importante descer ao cerne do processo de envelhecimento.
No início do mês de Abril decorreu em Coimbra, um encontro científico que reuniu alguns dos maiores especialistas mundiais em terapias para contrariar o envelhecimento humano. Os seus estudos abordam três temas fundamentais: utilização de fármacos avançados, a aplicação de células estaminais e o controlo da inflamação associada à actividade do sistema imunitário.
À medida que se envelhece, as células perdem a sua capacidade de adaptação às modificações a que estão sujeitas.
Foram identificadas as células senescentes — abençoadas sejam — que crê-se protegem do cancro, mas envelhecem-nos. Como? Ficam paralisadas a ver o tempo passar e aumentam os processos inflamatórios — para diminuir a incidência de cancro. Assim a ciência prevê a recruta de mercenários para as eliminar — os senhores senatolíticos — e a polícia de choque — os senatostáticos — para as imobilizar.
Estes fármacos permitem a melhoria da qualidade de vida nos indivíduos de idade tardia e recuperação de função em todos os que apresentem deterioração funcional.
No que lhes concerne, as células estaminais podem diferenciar-se em vários tipos de células. Um sonho para a ciência no combate a várias doenças, embora exijam um cuidado redobrado na sua manipulação, para evitar o desenvolvimento de cancro.
O sistema imunoinflamatório terá de ser controlado para evitar a destruição de células saudáveis, isto é, um ataque celular indiferenciado, facto que se verifica com o avançar da idade.
Estamos no caminho certo para combater questões como o envelhecimento precoce ou disfunção de órgãos vitais, e assim resolver patologias graves.
Este processo é mais que cabeleiras grisalhas a emoldurar rostos com rugas esculpidas. A nossa embalagem fica amarrotada e desbotada, com o passar dos anos, assim como todas as engrenagens.
No entanto, a preocupação primordial do comum mortal mergulha na questão estética. Esquecem o lado (dis)funcional do envelhecimento. A maioria foge dos pés-de-galinha, sulcos nasolabiais marcados ou dos primeiros cabelos brancos. Valha-nos o botox, ácido hialurónico, cirurgias estéticas ou as colorações. Não param, mas camuflam a passagem do tempo por nós e melhoram a auto-estima.
Interessante se corre bem, desastroso quando as pessoas ficam desfiguradas com o abuso destes procedimentos.
Nada contra este engomar de embalagem, mesmo que as engrenagens gritem com a degradação do tempo.
O rejuvenescimento deve começar de dentro para fora. De nada adiantam carcaças bonitas com conteúdo disfuncional.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico