A menina da voz doce, a gaiata de Almada e que tinha na sua avó a força, a anónima, tornou-se uma artista de mão cheia. Uma adolescente que tinha uma fibra especial e precisava de ser divulgada.
Sara Tavares, o nome que se associa à doçura de um veludo carnudo. Pele perfeita para uma alma cheia de uma pureza que se encontra com dificuldade. Menina que sorria com os olhos e o coração.
O programa Chuva de Estrelas lança-a para a ribalta e o estrelato chamou-a logo. Tinha apenas quinze anos e uma vida toda pela frente.Os planos de ser quem queria ser estavam agora prontos para terem a sua concretização.
Segue com o seu sonho, que se tornou realidade, para em 1996 editar o seu primeiro trabalho com a colaboração do coro Shout!, uma parceria que se impunha e que funcionou na perfeição.
“Solta-se o beijo” é a sua vez de oferecer a voz a outros, Ala dos Namorados, canção que andou na boca de muitos e que se prolongou no tempo. A sua voz era requisitada por muitos e ela a todos chegou.
“Balancé”, álbum de Novembro, 2005, foi considerado um dos melhores do ano por parte da crítica especializada e chegou a disco de ouro. A porta do mundo estava aberta e a vastidão chamava.
Soube ser uma pessoa íntegra. Nunca se vendeu. Mesmo quando tudo parecia estar a escorregar, foi sempre ela, a Sara que tinha a alma pura, a da essência que não se muda.
A vida deu-lhe e tirou-lhe. Tanto e tão pouco. Deu-lhe o amor sincero e quente de quem a criou, sem ser do seu sangue, uma avó que a abraçou e não quis saber de mais nada. Tirou-lhe algumas das alegrias ingénuas, aquelas que criam as memórias com os pais. No entanto, tornou-se uma mulher forte e determinada.
Foi-lhe diagnosticado um tumor no cérebro há dez anos. Parou a sua carreira, mas, estabilizado que estava a doença, voltou a criar. Era esta a sua vida. A sua quente voz enternece. Chamar a música, canção que ganhou um Festival da Canção, deu-lhe o mote.
Mulher das “coisas bunitas”, de uma essência pueril, de tanto, não conseguiu escapar a um inimigo feroz e ditador. Nem sempre se ganha esta guerra. Nem as outras.
Chamou a música e talvez tenha sido a música que a chamou. Após dez anos de esperança, abriu as asas e voou. Tinha apenas 45 anos. Foi uma lutadora.
Sara, a que cura, a maga. Na eternidade, onde deve ficar, o som doce de sua voz irá deslumbrar os anjos. Sara, menina/mulher, a que deixou uma chuva de estrelas que continua a encantar.