Estou de férias. São 9 da manhã e o monte alentejano ainda dorme. Melhor dito, os humanos, na sua maioria, ainda dormem. Escrevo no alpendre da típica casa rasteira, azul e branca e, tudo o que vejo é sossego. Muito, muito ao longe, um carro passa. A média distância, cavalos passeiam-se na planicie. Do outro lado, um pastor com ovelhas. Um galo tardio anuncia-se continuamente. Junto a mim, 4 cães repousam.
As férias trazem sempre a questão: o que fazer com os nossos animais? Podemos levá-los connosco? Se não, onde poderemos deixá-los em segurança?
Não preciso dizer, ou talvez precise, que as férias não são motivo para abandonar animais. Parece-me óbvio, mas talvez não seja, dado que o inaceitável continua a acontecer, e existe claramente uma sazonalidade na distribuição da frequência do abandono. Existe sempre, ao longo do ano, mas no verão acontece de sobremaneira.
Garantido o não abandono, que nem outra hipótese existiria, comecemos por analisar se poderemos ou quereremos que o animal nos acompanhe. Se formos viajar de avião, é evidente que não, ou se formos para um alojamento que não os permita, ou mesmo para casa de amigos ou familiares que não se sintam confortáveis com o facto. Teremos então que os deixar em algum local de confiança, que minimize o desconforto da ausência da família humana e possa mesmo tornar os dias divertidos.
Neste caso, há várias hipóteses, desde hóteis caninos, onde os cães ficam em boxes individuais durante grande parte do dia, tendo alguns períodos de passeio e recreio ou, em alternativa, alojamento familiar. As opções deverão ser vistas não só em termos financeiros, mas sobretudo adequadas à personalidade do cão, se é mais ou menos sociável, se fica confortável sozinho, ou se tem algumas necessidades especiais, como velhice ou doença, necessitando de um cuidado de proximidade.
Da minha experiência, posso dizer que o alojamento familiar tem sido a melhor opção. Sempre que não a podia trazer comigo, deixava a Rita nas mãos do Jorge. Sei que a minha cadela ficava em exclusivo numa área alargada, com um quarto e zona exterior arborizada, e que era acompanhada por câmara sempre que os humanos precisavam ausentar-se, por curtos periodos, já que havia quase sempre gente em casa. O Jorge é treinador de cães, portanto dedicava também algum tempo a brincar com ela, para além de me mandar informações e fotos a cada dia. Partia descansada.
Sendo possível, ou fazendo questão de levar o animal, há algumas outras opções, ainda que menos comuns, mas tendencialmente crescentes. É todo um mercado de pet friendly, que é como quem diz, onde os animais são bem vindos. Este ano, como alguns saberão, a minha Rita de 16 anos adoeceu e veio a falecer. Tendo em conta que não me sentiria bem em deixá-la nesta fase, procurei atempadamente alojamentos. A vida da Rita não chegou às férias, agora é a Olívia que me acompanha, 1 mês de adopção e ainda em adaptação a uma nova vida. Adaptação fácil, mas não deixa de ser um periodo crítico e no qual quero participar activamente.
Encontrei várias casas para arrendar que permitiam animais. O dono de uma delas confidenciou-me que resolveu abrir essa hipótese quando ele próprio, nas suas férias, sentiu essa dificuldade. Encontrei também alguns hóteis, mas na maioria deles os cães teriam que ficar em boxes externas aos alojamentos.
Na conjugação de vários factores, acabei por marcar uns dias no Monte Sardinha, na zona de Santiago do Cacém. Já aqui tinha estado em 2020, com a Rita. Um monte alentejano, casinhas baixas, com muito espaço para passear, piscina, e onde os animais são permitidos dentro das habitações.
Posso dizer-vos que isto é o paraíso. Mais ainda para quem gosta de cães. Agora que escrevo, tenho a Olívia comigo, bem como o Six, cão do vizinho da casa ao lado, e os cães residentes no monte: o Mingorras e o Bóris. Convivem todos pacificamente, salvo um ou outro amuo, e inclusivamente, acabei de servir o pequeno almoço a todos. Os cães podem circular por toda a área, ainda que por uma questão de bom senso possa ser usada a trela, sendo que a única zona interdita é a piscina em si.
Os cães que aqui vivem recebem bem os outros, habituados que estão a visitas. São dóceis e meigos, e têm em si o instinto de correr atrás das lebres e dos javalis que vão surgindo nas imediações. Contagiam os outros nessa vontade de liberdade. Pergunto-me se não terão um tipo supremo de felicidade, que nós, donos de cidade, por muito dedicados que sejamos, não conseguimos igualar.
Ainda assim, o importante é preparamos as férias de forma a que todos estejamos confortáveis e possamos disfrutar deste tempo de interregno tão salutar!
Boas férias para todos!