Cresci com muitas receitas de família bem presentes, mas há uma que marca todas as festividades. O bolo de amêndoa e gila da minha mãe. O famoso bolo, na verdade. Fazia sempre uma quantidade generosa que distribuía por diversas formas antigas e de diferentes tamanhos para oferecer à família e ás vezes também a algumas amigas, tal era o sucesso da iguaria.
Coziam-se no forno de lenha de uma vizinha logo pela manhã, mas a preparação começava na noite anterior. Ao serão da véspera, partiam-se as amêndoas e depois de cozidas em água, tirava-se a pele à mão e eram moídas numa picadora manual bem antiga de metal, que é hoje uma relíquia. Em simultâneo, partia-se a gila, retirava-se as sementes e os filamentos mais amarelos e lavava-se bem antes de a cozer. Na manhã seguinte, a primeira tarefa era cozinhar a gila com o açúcar. Depois, misturava-se com os restantes ingredientes e envolviam-se até obter a consistência desejada para a massa do bolo. Distribuía-se pelas formas untadas de banha de porco e farinha e ía ao forno até estar perfeitamente cozido e com uma crosta por cima. Se fechar os olhos, ainda consigo sentir o cheiro e o sabor inigualáveis.
Sendo que não é segredo, mas sim digna de partilha, eis a receita:
500 gr de açúcar
500 gr de amêndoa moída
500 gr de gila (em ponto com o açúcar)
20 ovos (- 10 claras)
100 gr de farinha
Canela qb
Raspa de limão
Coze-se a gila em mistura-se (bem escorrida) com a maior parte do açúcar para fazer o ponto até secar.
Bate-se todos os ingredientes juntos e vai ao forno a cozer.
Depois de arrefecer, é disfrutar de cada fatia fofinha com os pedaços de amêndoa e os fios de gila em destaque. É perfeito para acompanhar com chá, café ou um licôr.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico