Esta é uma data com um grande significado para o mundo cristão e para a cultura europeia. É o dia em que se celebra o nascimento do apóstolo Tiago, que se internacionalizou com o nome de Santiago de Compostela. Esta junção dos nomes ficou a dever-se ao facto do seu corpo estar depositado nesta localidade, o que leva a uma extraordinária peregrinação que é feita durante todo o ano. A tumba e os restos mortais têm um enorme simbolismo, uma vez que movimentam milhares de pessoas, todos os anos, até esse local. O chamado Caminho de Santiago não é um só, é a confluência de vários, uma rota de peregrinos, que se tem vindo a tornar cada vez mais um objectivo cultural de muitos. Se para alguns é uma viagem mística, interior, em busca de sentido e de orientação, para outros é um deslumbre de beleza física e humana, construída durante séculos e que nunca deixará de ser conservada e, por isso, é o dia da Galiza.
Chegar a Santiago pode ser conseguido por diversos caminhos – o inglês, o francês e o português. Difícil será escolher um para o percorrer. Este circuito pode ser feito de carro, na actualidade, que é o mais confortável e prático, de bicicleta, que tem angariado inúmeros adeptos, a cavalo, ainda só para alguns, e a pé, o clássico, o culminar de algo que foi planeado. De qualquer dos modos, o fim da viagem, quer religiosa, quer cultural, é chegar à Catedral e honrar o santo. Coloca-se aqui a questão crucial. Santo porque foi apóstolo? Santo porque é o patrono dos peregrinos? Santo porque foi um guerreiro? Santo porque ensinou a humildade, a frugalidade e o bem? Será o de menor importância, pois todos são unânimes em lhe reconhecer a importância e atribuir o destaque necessário.
Quem nunca efectuou esta peregrinação não consegue entender o que se sente, a emoção que se tem, o que se vive, quando, finalmente, se chega à Praza do Obradoiro e, literalmente, se atira para o chão. É a meta que foi conquistada, seja de que modo for, é o culminar, o prémio merecido. Uns cantam, outros dão as mãos, outros choram, mas todos se sentem abençoados pelo esforço despendido.
O Portal da Glória tem algo de mágico, um apelo que faz com que o visitemos, que falemos com as personagens que se encontram representadas e que sintamos a emanação das vibrações que chegam a nós. Toda a Catedral é única, com uma excelente acústica e espaço para a religião e para a visita cultural. Estão sempre vários grupos que festejam de maneira própria e celebram o destino que traçaram. É de salientar a chamada Missa do Peregrino, coloquial e multireligiosa. Um peregrino não tem só um mote religioso, é alguém que percorre um caminho que lhe dá sentido e orientação na vida. O momento em que o incensário, o Botafumeiro, é empurrado, é algo de cinematográfico, não só pelo barulho que produz como também pelo cheiro que se entranha em nós. São 6 homens que têm o privilégio de serem participantes dum acto que nunca mais poderá ser ignorado, depois de ser assistido. É único.
Neste dia, no ano 306, Constantino é coroado Imperador perante as suas tropas. Deslocaliza a capital para Bizâncio, a nova Roma, que tomou o nome de Constantinopla, em sua honra. É o fundador do Império Romano do Oriente, a ligação entra a Europa e a Ásia, sendo assim um visionário. Mais recentemente, em 1978, nasce Louise Brown, a primeira bebé de fertilização in vitro, uma experiência bem conseguida e que auxiliou milhares de famílias a realizarem o sonho de serem pais.
E deixei o mais interessante para o fim, para ser apreciado com calma e deixar um sabor doce na boca. É o dia do nascimento de D. Afonso Henriques, em 1109, o rei fundador do reino mais antigo do mundo, o analfabeto mais inteligente da História, aquele que se soube rodear dos mais aptos, dos mais valentes e que teve visão de futuro, de alargamento de horizontes. Interessante, porque é o primeiro, o que vai servir de mote para os seus seguidores, e interessante, porque nunca vacilou nos seus objectivos. No entanto, há mais uma curiosidade com este dia. Em 1139, este mesmo rei, com 30 anos de idade, consegue uma estrondosa vitória na Batalha de Ourique. Diz a lenda que, quando viu escrito nos céus “In hoc signo vincis“, se ajoelho e soube que ia vencer. Para quem era analfabeto tinha, de facto, um grande conhecimento cultural e profundo do latim.
Será coincidência esta data assinalar acontecimentos tão importantes ou é uma mera ocorrência? O Império Romano já não existe, Louise Brown continua viva e de boa saúde, S. Tiago mantém os seus inúmeros fiéis e D. Afonso Henriques ainda é visto como um símbolo de força, determinação e aquele que lutou contra a mãe. Porém, isso explico depois, porque é uma outra história.