Vejo a minha imagem reflectida no espelho e não me reconheço. Hoje faço 30 anos e nada daquilo que um dia ambicionei para mim faz parte da minha realidade.
Não sei se as outras pessoas estabelecem metas de vida tendo como limite a idade, mas eu estabeleci que aos 30 anos iria atingir uma série de objectivos e um deles passava por estar realizada e feliz comigo mesma.
Olhando agora para o meu reflexo, percebo que me perdi e deixei de ser “eu” para ser alguém que o meu marido quis. Ele quis que eu colocasse a minha carreira de lado e me dedicasse à família e eu aceitei simplesmente por estar cansada de lutar. Deixei de ser “eu” e passei a ser uma boneca com comando que ele controla a seu bel prazer.
Para mim, é mais fácil assim, dá menos trabalho, porque sinceramente já há muito tempo que desisti de fazer valer a minha voz e sempre que o tento fazer sou apelidada de maluca.
Choro e sinto um aperto no peito de tal ordem, que nem sei explicar… e tomo a decisão de tomar as rédeas da minha vida, sabendo que esta decisão acarreta consequências. A partir deste momento, passarei a ser responsável pela minha vida!
Certamente, já todos ouvimos falar de histórias iguais a esta, contadas por uma amiga ou conhecida, e damos por nós a tecer julgamentos e a justificar os porquês da mulher que adotou uma atitude submissa perante o homem com quem decidiu partilhar a sua vida.
A submissão é a disposição para aceitar um estado de dependência, rebaixamento servil, humildade afetada e subserviência, um tipo de agressão muitas vezes inconsciente.
Quando elas se colocam na posição de submissão acabam por renunciar a si mesmas, excluindo qualquer possibilidade de escolha. A mulher submissa tem em si a necessidade de agradar os outros mais do que a ela mesma, acabando por anular a sua liberdade ao permitir que os outros escolham por ela.
Na minha opinião, a relação de submissa e dominador ocorre na maioria dos casos de forma inconsciente de ambas as partes.
O homem autoritário e controlador emocional muitas vezes não tem consciência da sua condição. Na maioria dos casos, são homens inseguros cuja única forma de se libertarem das fraquezas passa por imporem as suas opiniões e desejos sem que haja lugar para que as pessoas ao seu redor possam ser elas mesmas. Aqui cabe à “vítima de submissão”, ser ela mesma a libertar-se deste ciclo vicioso.
Se por um lado o homem dominador não aceita nada além da sua própria verdade, por outro a mulher submissa vive a falsa plenitude de não ter que acarretar com as consequências dos seus atos, limitando-se a fazer única e exclusivamente o que pensa ser o correcto, numa tentativa desesperada de que a pessoa com quem se relaciona, venha a amar a sua forma de ser e que com isso venha a tão esperada e ilusória mudança por parte do dominador.
Acredito que tal mudança jamais ocorra. Como é que se pode pedir a alguém que ame um boneco? Alguém que simplesmente decidiu se esquecer de ele próprio e arrastou a sua auto-estima na lama? Se souberem a resposta por favor digam, porque eu muito sinceramente não sei. A única certeza que tenho é que ambos se encontram desconectados de si mesmos e que inevitavelmente os dois se perdem neste ciclo vicioso de manipulação.
É importante salientar que este “jogo emocional” de submisso e manipulador ocorre em ambos os sexos, havendo, por isso, mulheres controladoras e homens submissos. O que acontece é que por razões culturais os homens ainda são considerados o “sexo forte” não havendo liberdade para que os mesmos assumam as suas fraquezas perante os seus pares, pois isso iria fazer com que na sua maioria fossem apelidados de “maricas” e por aí fora.
Contudo, como pode uma mulher fazer valer a sua voz e força perante uma situação de submissão?
Aqui a resposta é simples e perturbadora!
Basta que se aceite e se ame. Quando nos amamos descobrimos que errar faz parte do nosso percurso de vida e agradecemos aos erros, porque eles nos ensinam a compreender o que queremos e o que não queremos. Partimos de coração aberto para todos os desafios da vida e os nossos olhos brilham cada vez que sorrimos, porque não há nada mais gratificante do que poder exercer o que somos de forma plena e verdadeira para nós mesmas.
A forma como decidimos viver a nossa vida é da nossa inteira responsabilidade e ao termos consciência disso deixamos de culpar os outros pelo que nos acontece e o “ser feliz” acontece por magia.
Não se resignem ao facto de estarem com a pessoa há muitos anos e que, por isso, o melhor é deixar as coisas como estão. Sejam egoístas e coloquem-se em primeiro lugar. Ser egoísta é a forma mais plena de amor para nós mesmos.
Deixo um apelo a todas as mulheres e homens que vivem uma realidade de submissão. Tomem as rédeas da vossa vida, aceitem os erros como parte do processo e façam-no sempre com o objectivo de serem a melhor versão de si mesmos, pois se o fizerem não há como não serem felizes.