Publicidade, redes sociais e documentários em canais comprados que criam documentários sobre quem se tornou feliz, e foi bem-sucedido ao perseguir os seus sonhos.
E nós vemos, assistimos, pensamos, vamos ao google. Mesmo que no dia seguinte estejamos dispostos a manter a mesma rotina, sem mexermos um dedo para a mudar. Procuramos milagres, rasgos no céu com mensagens divinas, ou simplesmente alguém que nos traga a resposta para todas as frustrações que acumulamos, e finalmente nos indique o nosso caminho.
Falava-se em riqueza, até percebermos que existem milionários infelizes. Juram a pés juntos que a felicidade não se compra, no limite conseguem ir para Saint Barth chorar à vontade. Falava-se em viver da natureza, até percebermos que muitos procuram na natureza um refúgio que não encontram em si mesmos, ou na sua família. Depois falamos de beleza, juventude, e voilá… temos uma vasta gama de operações estéticas à disposição que mesmo assim não foram suficientes para evitar suicídios de quem nunca se sentiu bonito o suficiente.
Universo, propósito de vida na terra, seguir o coração, seguir a luz, sentir o chamamento, seguir os sonhos de infância, tudo são coisas que acreditamos. Pagar contas, viajar, juntar dinheiro para comprar uma casa, ter as contas em dia, comprar um carro cuja prestação são centenas de euros. Umas respostas são poéticas, as outras são narrativas mais cruas. No entanto, todas elas são respostas válidas. Tudo é permitido desde que acreditemos.
Só ter um título, o reconhecimento, a fama, é muito pouco. Isso é muito 1996. Hoje em dia queremos ser bem-sucedidos, mas que isso tenha impacto na vida das pessoas. Temos de sentir que a nossa vida teve um propósito. Sermos recordados como boas pessoas por aqueles que privaram connosco é pouco. Precisamos de saber que fizemos a diferença na vida de conhecidos e desconhecidos. Talvez seja a expansão do ego ao nível da globalização.
Chegamos à parte em que temos um sonho, mas esse sonho não serve para pagar contas. Por isso é que tantos actores, cantores, cineastas, pintores, escultores têm de servir às mesas em restaurantes. E servir às mesas é de facto o seu trabalho. O trabalho que paga as contas. Para que nos seus tempos livres, ou naqueles tempos de sono que não é dormido consigam ter tempo para viver os seus sonhos.
Para aqueles não tão artísticos, que desde cedo tiveram de trabalhar para poder pagar o seu curso superior. Mesmo que lhes dissessem que ter um curso superior de nada servia em pelo século XXI, a verdade é que se mataram entre trabalhos e faculdade para poderem ter um curso. Ou então, os que aos dezoito anos fazem créditos para estudar. O que têm todos em comum, estão a trabalhar para alcançar sonhos. Sejam eles quais forem. E aquilo que todos têm em comum não é a história por detrás do sonho, mas sim o facto de terem um sonho que os move.
E sonhos não pagam contas, e primeiro que comecem a pagar contas há um longo caminho para percorrer. Se lermos biografias de grandes personalidades das mais diversas áreas deparamo-nos com o seguinte fenómeno: Nenhum deles esbarrou com o sucesso. Até darem de caras com a concretização de sonhos, tiveram antes, de dar de caras com verdadeiras razões que os desmotivaram. Mas acreditaram sempre, mesmo quando não estavam a acreditar. Aquele ponto em que estão prestes a desistir, e já pensam mesmo que não são capazes e que nada dá certo, mas mesmo assim levantam-se e continuam…dizem que é mais ou menos por aí, nessa altura, que os sonhos se realizam.
Os nossos sonhos não falam por nós, as nossas ambições não nos definem, o nosso trabalho não é a nossa vida, mas que propósito é este que parece que todos temos um e não é igual para todos.
É como se houvesse um propósito com um ADN específico para cada um de nós. E aquelas histórias de que encontrou o amor da sua vida aos cinquenta e sete anos, descobriu por acaso que tinha o dom de tocar violoncelo, descobriu…
E aqui voltamos à fase inicial, uns descobrem e outros procuram. Sonho é uma coisa, ter um propósito é outra. Mas muitas das vezes andam de mão dado. Arrisco-me a perguntar: Quem é que nasceu primeiro, o sonho ou o propósito?
Só há uma certeza que todos temos. Nenhum de nós não quer morrer sem encontrar o seu propósito. Como se a alma, a mente, o corpo, a nossa história, os nossos medos e segredos tivessem todos conectados a um sentimento de felicidade plena. E nenhum de nós quer deixar sonhos por realizar. Contudo, viver no conforto do conformismo, dos dias cinzentos, em que de vez em quando lá surgem aguarelas de cores variadas, é muito tentador. Porém, é muito mais facilmente ultrapassável num trabalho que não nos preenche, mas paga as contas quando há sonhos, propósitos e uma vontade de os viver. Muito maior do que as nossas frustrações, derrotas ou desgostos.
Se há por aí algum amor feito por medida, esse, sim, vamos simplesmente encontrar. Se há por aí algum talento ou sonho para colocar em prática, há que arregaçar as mangas e ter a mente de um vencedor. Se há um propósito de vida para cada um de nós, então, vamos descobrir ou encontrá-lo neste entretanto entre o nascimento e a morte.