Quem hoje está na casa dos vinte, trinta anos é pouco provável que tenha crescido com a ideia de um dia emigrar. A velha conversa de que “antigamente” Portugal era um país pobre que obrigou várias gerações a pegar nas malas e a partir para países como a Suíça, a França, a Alemanha, a Bélgica e o Luxemburgo parecia ser demasiado irreal e longínqua para se repetir. Infelizmente, a História é prova viva de que os erros do passado, muitas vezes, se repetem. Em pleno ano de 2013 Portugal vive, uma vez mais, um “BOOM” na emigração. Conscientes desta nova realidade, fomos à procura de três jovens que viram na emigração a sua última alternativa, para partilharam com o Repórter Sombra os seus medos, projectos e sonhos. Eis que encontramos João Miguel Rodrigues, Cândida Esteves e Stéphanie Domingues, curiosamente, a França escolheu-os aos três.
Sonho esquecido
Há cinco anos, João Miguel, de 22 anos, andava às voltas entre a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e a Universidade do Minho (UM) para ingressar no curso de Ciências da Comunicação e seguir a carreira de Jornalismo, um sonho que alimentava desde criança. Mal imaginava que, em pouco tempo, abandonaria esse sonho e quatro anos mais tarde partiria para Paris à procura de estabilidade financeira. “Foram vários os motivos. Desde o desinteresse pelo próprio curso, o facto de trabalhar ao mesmo tempo que fez com que aumentasse a minha vontade em ganhar o meu próprio dinheiro, depois, comecei a trabalhar a tempo inteiro e, por fim, os gastos elevados com a universidade deitaram por terra todo o meu interesse”.
Hoje, ao olhar para trás, não se arrepende de não ter seguido a carreira de Jornalismo/Televisão. “Se me perguntarem se estou arrependido por não ter acabado o curso, a minha resposta é não. Só por um milagre não tinha emigrado. O desemprego já não é só para aqueles que não têm um curso superior, em certos casos, chega até a ser mais complicado para aqueles que têm mais formação arranjar trabalho. Conheço ex-colegas meus licenciados que se vêm sem trabalho e isso é muito revoltante. Em criança, era tudo tão diferente, primeiro, porque não tinha consciência do que é o mundo do trabalho e pensava, apenas, naquilo que gostava de vir a ser quando fosse adulto, segundo, apesar de nunca ter vivido com grandes luxurias, a crise não era todos os dias tema de conversa à mesa. É necessário fazermo-nos à vida antes que ela se faça a nós”.
A emigração não foi uma decisão fácil, especialmente, quando se é filho único. Depois de ter sido dispensado de uma loja de roupa, em Braga, onde trabalhou durante três anos, conciliando com um part-time numa empresa de telecomunicações, viu-se de um momento para o outro numa situação de precariedade. “Já não sabia mais o que fazer, depois de ter perdido a conta à quantidade de currículos que entreguei em todo o distrito de Viana do Castelo, a única coisa que tinha conseguido arranjar tinha sido um part-time de fim-de-semana”. A ambição que tantos outros demonstram ter em “conquistar algo na vida, construir uma carreira profissional, comprar um bom carro, mais tarde, um apartamento e descontar para uma segurança social fiável, que garanta uma reforma estável”, foram apenas algumas das razões que o levaram a olhar para a emigração como uma opção fiável.
Sete meses depois a trabalhar também numa loja de roupa em França, não esconde as saudades que sente da língua, dos costumes, da paisagem, do clima e até do modo de ser e de estar dos portugueses. “Quando emigramos passamos por várias fases. Primeiro, sentimo-nos à descoberta de algo novo, a nossa curiosidade nem nos deixa pensar no que deixamos para trás, depois, começamos a apaziguar e a tomar consciência das diferenças entre o nosso país e aquele onde estamos, até chegar a saudade avassaladora dos nossos entes queridos, dos nossos amigos, da vida que tínhamos e daquela que agora temos, que é mais monótona e focada num só objectivo – o trabalho. Mais tarde, acabamos por nos adaptar a uma nova rotina, a uma nova vida e a uma nova existência, pois cada vez que o coração chamar a saudade, devemos puxar da mente e da razão”.
Os canais portugueses e a internet vão mantendo-o conectado com a realidade do seu país, que se traduz, nas suas palavras, em “manifestações”, “greves”, “desagrado”, “desemprego”, “crise e mais crise” – “sinais de um Portugal tão em baixo como nunca esteve”. Apesar de na França as coisas já terem sido melhores no que toca a arranjar trabalho, João Miguel não tem dúvidas que a qualidade de vida entre os dois países é “incomparável”. “Já consegui chocar colegas meus aqui (França), quando lhes disse quanto era o nosso salário mínimo em Portugal, pelo que me disseram na brincadeira: então tu aqui és rico, não?”.
A emigração para João Miguel é sem dúvida a solução para quem está no desemprego e sem alternativas, ou para quem quiser adquirir mais do que aquilo que Portugal tem a oferecer neste momento. Acrescentando que “a emigração de hoje em dia nada tem a ver com a dos nossos antepassados, pois se pensarmos bem os facilitismos são muitos. Dou o meu exemplo particular no que toca ao contacto com os meus pais. Neste natal dei-lhes formação de Internet e Skype; eles que nunca se tinham interessado, neste momento, estão motivados a aprender e, agora, já posso vê-los. Há também operadoras que fazem planos de chamadas ilimitadas grátis para telefones fixos para Portugal e outros países com uma mensalidade de apenas 19,90 euros”.
Actualmente, o seu plano de vida passa por crescer profissionalmente, em França. O regresso é nas suas palavras “indefinido” a um país que não o acolhe mais, algo que o revolta, porque podia estar a contribuir para o seu crescimento e, pelo contrário, consta “na lista daqueles que partem em busca de uma solução ao desespero que é sobreviver em Portugal”. Resta-lhe apenas “a esperança de um povo valente e imortal que consiga de novo levantar o esplendor de Portugal, pois, para mim, esta solução fará sempre parte de um contentamento descontente”.