A alegria de se livrar de algo, o acto de descartar e deitar fora, esta é a verdadeira paixão do nosso mundo.
– Zygmunt Bauman
E que mundo é este em que nos submergimos todos os dias como se não houvesse amanhã?
Sempre ligados aos nossos telefones e ao mundo WI-FI à distância de um click para um gosto, ou para a partilha de alguma fotografia ou estado de alma?
Temos nós presente a noção do afastamento que causamos a quem está perto fisicamente, em face da proximidade com que privilegiamos as tecnologias e a vida paralela a que nos dedicamos?
Gostar, compartilhar, ligar-se ao WI-FI, começar uma amizade, terminar uma amizade, “desgostar”, esta vivência em total partilha que nos liga ao mundo quase à velocidade da luz tem um sentido assumida e assustadoramente efémero.
A noção de que somos descartáveis, de que temos uma duração muito limitada na vida das pessoas assusta-me e obriga-me, por vezes, a refletir em toda esta existência ou inconsciência a que somos/estamos expostos a cada dia da nossa vida.
O que é feito do calor de um abraço, da doçura de um beijo, ou mesmo da magia de um belo sorriso de quem está ali, mesmo ao nosso lado?
Teremos esquecido o toque na pele de quem partilha connosco a vida? O que significa olhar olhos nos olhos e falar abertamente de viva voz com quem está ali por perto, sobre o que nos vai na alma ou o que pensamos relativamente a um determinado tema?
Valorizamos mais as partilhas feitas de momentos reais ou não das nossas pseudo-vidas felizes no Facebook, Instagram e afins, do que a nossa vida real? Ou substituímos estas vidas pelas nossas vidas reais, e deixamos que estas se transformem naquilo a que chamamos vida?
Enfim, tantas questões… Torna-se importante esta reflexão.
Por vezes, questiono-me: O que significa uma vida ligada por uma rede wireless? Este é um pensamento que me preocupa, porque este estilo de vida em rede a que somos expostos diariamente e sobre as mais diversas formas interfere inevitavelmente com as nossas relações interpessoais e até mesmo com a nossa existência individual e a nossa vida pessoal.
A necessidade imensa de nos mostrarmos ou até mesmo de “espreitar” como vai a vida social deste ou daquele amigo acaba por ser inevitável. Nos tempos que vivemos, é quase impossível passar ao lado desta moda/tendência do século XXI.
Pergunto novamente: Onde ficam os nossos sentimentos e a nossa forma de estar na vida e no universo onde nos integramos, enfim a nossa simples existência humana?
A vida contemporânea inevitavelmente também se passa na rede e somos como que “obrigados a “socializar” tecnologicamente, de forma mais assídua ou não. Acredito que é difícil passar ao lado desta nova forma de vida social do século XXI em que nos sentimos mais poderosos porque tudo é mais fácil assim. Eu posso gostar agora e “desgostar” daqui a pouco se me apetecer. Tudo é tão frágil e quase fictício que mais parece que vivemos num mundo de faz de conta, mas é um mundo em que eu tenho poder, porque eu posso decidir sobre tudo.
É como se vivêssemos num universo de brincar quase me atrevo a dizer, em que as pessoas só existem na nossa vida se e enquanto nós quisermos, tão simples, não é?
Não, não me parece nada simples porque a vida a sério é aquela que não cabe no click de um rato de computador, ou no simples deslizar e clique duplo do nosso dedo no ecrã do Tablet ou mesmo do telefone.
Existem, no entanto, imensíssimas oportunidades de emprego, de aprendizagem, de experiências fantásticas que nos iluminam com o conhecimento que nos transmitem, com as imagens que nos proporcionam e as aprendizagens que nos facultam. É um mundo de oportunidades que é colocado à nossa disposição, a qualquer hora e em qualquer lugar. Assim nós saibamos aproveitar.
Neste mundo tecnológico em que tudo está disponível para consulta, partilha ou mesmo debate independentemente do tema, parece-me que à semelhança de quase tudo na nossa vida bastará um pouco de bom senso e alguma sensatez para que todo este universo tecnológico seja uma mais valia para nos fazer melhores pessoas e seres humanos mais felizes!