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Reféns da pseudo-felicidade

De repente, vivemos numa Era em que parece que nunca estamos sós. Entenda- se que estar só não é sinonimo de solidão. Poucos são os momentos que temos para pensar ou refletir. Quando estamos sozinhos connosco próprios, há sempre qualquer coisa que desperta a nossa atenção e a retira de nós mesmos: uma mensagem de WhatsApp, do Messenger, uma notificação numa rede social ou uma notificação numa outra qualquer aplicação… tantas e tantas coisas que pedem a nossa constante atenção e que colocam os nossos sentidos em alerta. E estar constantemente atento ao outro, faz-nos estar muito desatentos e menos focados em nós e nas nossas reais necessidades.

Uma notificação de uma rede social faz-nos recordar uma vez mais que, como por magia e à distância de um clique, sabemos tudo ou quase rigorosamente tudo da vida de quem quisermos. E num segundo, o EU deixou de ser o foco e passou a ser o outro e a sua vida.

As redes sociais trouxeram a quem as tem quase uma necessidade avassaladora de partilhar uma constante vida feliz. E torna-se um vicio para quem vê, consumir mais e mais dessa dita (in)felicidade e, quanto mais consome, mais aumenta a sua frustração por não estar à altura de uma vida assim.

E, é neste ponto que devemos refletir. É verdade que vivemos tempos onde temos de ser bem-sucedidos e exemplares, onde as falhas não são aceites e devemos estar sempre a respirar boa disposição e confiança e a transpirar felicidade, quer no universo profissional, quer no universo familiar. Deixa de se perceber o momento em que sermos “normais”, deixou de ser normal.

É por isso que depois surgem uma panóplia de partilhas nas redes sociais de pessoas que têm a vida de sonho, o/a marido/mulher de sonho, a família de sonho e mais feliz do mundo, os melhores filhos do mundo, o melhor emprego…. Basicamente, têm uma vida plena. E quem nos dera, não era? Porque é que alguns vivem todos os dias uma vida (falsa) de conto de fadas e nós, tantas e tantas vezes, num absoluto inferno?

Claro que toda esta vida perfeita desperta a nossa total atenção e claro que nós, comuns mortais, morremos de frustração porque, afinal, temos uma vida tão cheia de imperfeições (e ainda bem). Tanta felicidade (de aparências) faz-me lembrar dos típicos “jantares do secundário”, cujos reencontros acontecem décadas depois, e, ao longo de todo jantar, assiste-se a uma disputa por quem tem o maior estatuto social, o melhor cargo, a melhor casa, o melhor carro… e, mais uma vez, nós comuns mortais, sentimo-nos à margem, porque, afinal, só temos uma vida normal (e que bom que assim é).

A bem da verdade, é a própria sociedade a responsável por todos nós. Uns mais que outros, forjarmos a nossa própria vida. A tristeza, a amargura e a infelicidade são totalmente desinteressantes, cada vez mais vistas como vulnerabilidades e que, geralmente, até estão aliadas ao fracasso e, verdade seja dita, “dos fracos não reza a história”. Já ninguém tem muita paciência para “aturar” a infelicidade do outro. Por vezes, nem mesmo os familiares e amigos, pura e simplesmente porque isso é maçador e aborrecido.

Então, se chegamos a um ponto em que sentimentos de angústia deixaram de ser aceites, porque não colorir a nossa vida de forma a ter a atenção do outro? Ainda por cima se isso significar haver inúmeras pessoas a desejar a nossa (in)felicidade, melhor ainda… alimenta-nos o Ego. E, de repente, também nós estamos a partilhar uma vida (in)feliz. É muito mais fácil fingir a felicidade do que a construir, porque para tentar ser feliz é realmente preciso muita coragem e muita audácia.

Que bom que pode ser viver um faz de conta. Contudo, que vazio que é, quando desligamos o computador ou o telemóvel e nos apercebemos que só nos estamos a enganar a nós próprios.

E só posso lamentar que, um dia, tenha acordado numa sociedade em que ser infeliz é quase imoral.

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