Crise: palavra do dia, da noite, sem tempo limitado, sem espaço fechado e sem esconderijo seguro. Não se trata de partidos, cores ou nações: esta palavra não conhece fronteiras, nem desagua em mares, ou oceanos. Todos falam. Todos ouvem. Porém, será que alguém compreende?
Portugal nunca foi um país de grande produtividade. Os seus habitantes rotularam-se de desleixados, preguiçosos e nada pontuais. As últimas 4 décadas foram basicamente “a sacudir a água do capote”. As culpas vão sendo apontadas mutuamente entre governos, mas ninguém as assume. Falta-lhes honra, ou coragem? Ninguém parece saber e ninguém se parece preocupar. Só o “Zé-povinho” vai andando, para lá e para cá. Não sabe o seu caminho. Não sabe qual o seu local de chegada. A sua única certeza: assim, já não pode mais ficar!
Se 7 são as leis de Deus, também 7 são as possibilidades de errar. Todavia, o foco deste artigo serão as 7 vidas de um gato. E se Deus, ou o Diabo o permitirem, todos os portugueses serão gatos e nenhum gato será pardo.
Neste artigo, serão focados os 7 pontos essenciais a aplicar e a ser alvo de foco pela nação: antónimos de crise, sinónimos de crescimento, estabilidade e felicidade.
Comecemos pelo problema estrutural, que mais afecta a sociedade portuguesa: o desemprego. Segundo as estimativas do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de desemprego, do primeiro trimestre de 2015, rondava os 14.4%. O que implica que, além do desemprego técnico, a crise atirou para as ruas, uma grande quantidade de população activa.
Segundo Luis Gonzaga, professor de Geografia, do ensino secundário, o combate ao desemprego “necessita, urgentemente, de requalificação que, muitas das vezes, poderá passar por uma espécie de ‘regresso ao passado’, através do retorno aos sectores tradicionais da agricultura e pesca, mas, ao contrário do que sucedia anteriormente, com níveis de conhecimentos e qualificações superiores.” Desta forma, a diminuição da taxa de desemprego não passaria pela integração em estágios profissionais, como aconselha o actual governo, na sua campanha legislativa. Implicaria uma reforma estrutural: requalificar os desempregados e apostar em sectores de potencial crescimento, no sector primário, a título exemplificativo.
Já Beatriz Branco, funcionária bancária, de 48 anos, toca num ponto muito mais sensível do desemprego. Segundo ela, “os desempregados deviam prestar um serviço público, mediante o pagamento do subsídio de desemprego. Com esta medida, evitava-se muitos falsos desempregados”. Será esta uma nova possibilidade, para a limpeza das matas – que tão fustigadas são no Verão?
Caímos, assim, no domínio das denominadas “economias paralelas”. Desde o tráfico até ao arrendamento de casas no Verão, determinadas actividades não contam como produção interna bruta – carinhosamente, denominada de PIB. Recentemente, o Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF), da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, estimou o valor da economia paralela, no nosso país, em cerca de 27% do PIB (2014), traduzindo-se num montante absoluto de cerca de 50 000 milhões de euros. Passamos de um aparente “detalhe” para aquilo a que podemos de chamar de “catástrofe”.
Como pode, o mais comum, simples e inculto cidadão fazer a diferença? Pedindo facturas, exigindo recibos e reclamando os seus direitos. Desde um simples café até a uma máquina de lavar a loiça: lembre-se que todos os gestos contam e contribuem para um maior cumprimento da lei – que, em grande medida, passa pela declaração de rendimentos e pagamento dos impostos.
Tanto na economia paralela, como no suposto “mundo legalizado”, uma questão tem, peremptóriamente, marcado o quotidiano: “escolher a qualidade, ou a quantidade?” Não conseguindo, Portugal, competir com outros países a nível de quantidades – onde as economias de escala abundam – existe outro ponto por onde se destacar: a qualidade.
Sectores como a exploração florestal, ou a produção de azeite ou vinhos – que recebem inúmeros prémios e certificados de qualidade -, permite a Portugal equilibrar a sua balança comercial. Segundo Luís Gonzaga, “é urgente que, à semelhança do que acontece com muitos dos países, que consistentemente conseguem sucessivos superavits (ou balanças comerciais equilibradas), o nosso país consiga acrescentar valor aos seus produtos e não se limite a fazer o mesmo que muitos países desenvolvidos fazem: exportar riquezas em bruto. Sectores como o dos recursos do subsolo, como o cobre, ou as rochas ornamentais, são apenas um dos exemplos, que podem ser dados para justificar a importância desta orientação estratégica.”.
E se “é de pequenino que se torce o pepino”, também na educação aparece um passo estrutural, que Portugal deve dar. Mesmo com o aumento da escolaridade obrigatória, do 9º ano para o 12º ano, existem medidas que exigem ser tomadas e criticas, inúmeras, a serem registadas.
Desde logo, Luís, professor de profissão, mostra o seu descontentamento com a falta de coerência das políticas adoptadas, nos últimos 40 anos, mais concretamente, “o excesso de produção legislativa, a falta de estabilidade e continuidade das políticas educativas, o desinvestimento no sector, a aposta em mecanismos de controlo altamente centralizados e burocráticos e, sobretudo, a ausência de uma definição estratégica clara e mobilizadora funcionam como entraves à melhoria do sistema.”
Por outro lado, é Beatriz, com 2 filhos em idade escolar, que critica o novo modelo de escolaridade obrigatória, impiedosamente, referindo que “não basta termos doze anos de escolaridade obrigatória. É essencial que, os alunos, que vão para o mercado de trabalho, tenham uma formação adequada, o que, na maior parte das vezes, não acontece.” Prevendo consequências negativas, desde um acentuar do desinteresse pela escola, até à falta de atenção e rendimento escolar, esta mãe mostra-se alerta e muito preocupada, com o rumo educacional, dos seus filhos.
As soluções? Uma maior atenção aos alunos de forma individual, tendo em conta o seu progresso, interesses diversos e os seus próprios métodos de apreensão da matéria lecionada. Não esquecendo, uma maior flexibilização de critérios, a que, este ano, o ministério da educação já pareceu ter em consideração: “o que publicitamos no dia da prova é uma versão de trabalho dos critérios, que comporta aquilo que são as previsões mais comuns de respostas. Em muitos casos, essa versão será igual à final”, acrescentou, “mas não queremos que, durante o processo de classificação, em que os professores podem colocar aos supervisores dúvidas, seja excluída a possibilidade de surgirem respostas muito bem conseguidas, muito bem trabalhadas pelos alunos, que não estão previstas, mas devem ser validadas em termos de classificação” – leia a noticia completa aqui.
Saindo do mundo escolar e académico, passamos a integrar a população activa. Pondo de parte o desemprego – ou olhando para uma parte alarmante deste -, encontramos o domínio ancestral da construção civil. Tudo começou por este sector: desde a Era imobiliária, passando pela bolha imobiliária até à lava da crise. O que fazer agora?
Mais uma vez, à semelhança da solução para o desemprego, a palavra-chave parece ser “requalificação”, ou “reabilitação”. O que poderíamos fazer? Transformar as construções desabitadas, investimentos iniciados (mas nunca concluídos) e espaços indeterminados em zonas habitáveis, investimentos úteis e em locais turísticos atraentes. Esta tendência, demonstrada eficaz – segundo estudos recentes, da Federação da Indústria Europeia da Construção, a percentagem de obras de reabilitação urbana, em Portugal, apresenta valores muito baixos (inferior a 8%), enquanto, nos países mais desenvolvidos da Europa, nomeadamente na Alemanha, ultrapassa os 30% -, pode ser o recurso que tanto buscamos. Tendo, isto mesmo, em consideração, “competirá aos gestores/arquitetos/engenheiros e outros técnicos do setor, utilizar a criatividade e a sabedoria para, em alguns dos famosos elefantes brancos, transformar um espaço sem utilização noutro dinâmico e rentável. O setor da hotelaria e turismo seria um dos que poderia dar um contributo concreto na transformação e requalificação de espaços degradados e sem atividade económica”, afirma Luís Gonzaga. Também Beatriz mostra-se confiante, quanto a este novo rumo, ainda, por explorar. “É sempre possível requalificar e dar outra finalidade a ‘obras megalómanas’, que se realizaram no nosso país, tais como, os estádios construídos para o Euro 2004. Porque não transformá-los em recintos desportivos? O importante é realizarmos algo. Todos juntos, acreditarmos que é possível. Eu acredito.”.
Tendo em conta a mensagem encíclica, “Laudato Sí”, que, recentemente, o Papa Francisco deixou ao mundo, também, o nosso país, deverá ter em conta o estado ambiental em que nos encontramos. Assim sendo, mesmo em tempos de crise económica e moral, não nos devemos esquecer que a nossa casa é o planeta que habitamos. E como pode este ser um aspecto importante para sair da crise económica? Apostando nas energias renováveis que, implicando um investimento a médio prazo, trarão recompensas ambientais e económicas estrondosas.
Revelando-se um apaixonado por este tema, Luís não hesita em alertar para todas as vantagens naturais que possuímos. Desta forma, afirma categoricamente que “Portugal já apresenta, há muito tempo, um conjunto de centrais hidroelétricas que, em anos normais, do ponto da vista da precipitação, alimentam mais de 10% da produção elétrica nacional. Na primeira década, do atual século, houve fortes investimentos no setor das eólicas que permitiu, não só diminuir a nossa dependência externa de combustíveis fósseis, para alimentar as centrais termoelétricas, como, também, favorecer a criação de empresas e emprego qualificado – associado ao domínio desta nova área de conhecimento. O noroeste português, nomeadamente o eixo Viana/Braga pode ser visto como um mini cluster eólico, com a vantagem da interligação das pequenas e médias empresas, da universidade e da poderosa EDP – que patrocina os primeiros passos nas eólicas offshore, em Aguçadoura (Póvoa de Varzim). Com uma visão de médio e longo prazo e com disponibilidade financeira, há, também, espaço para replicar, no setor da radiação, as experiências positivas do setor eólico. Se, atualmente, a produção de eletricidade a partir de fonte renovável já é muito superior a 50%, deve constituir uma nova prioridade a aposta no setor da radiação, que, tal como o das eólicas, permitirá criação de emprego qualificado e riqueza nacional.”.
Por último, depois de toda uma vida dedicados às nossas profissões, merecemos um “descanso”: que venha a tão (in)desejada reforma. E é aqui que tudo se volta a complicar, com as actuais medidas do governo. Os cortes nas pensões vieram apenas denunciar uma realidade, que se sabia premente. O serviço de segurança social está a entrar em colapso. De forma rápida. De modo brusco. É o salve quem se poder.
Todavia, como o velho ditado pressagia, “entre mortos e feridos, alguém há-de salvar-se”. Como? Investindo numa conta poupança para a reforma, juntando uns trocos debaixo do colchão, ou buscando amparo nos familiares, amigos e conhecidos. A solução ideal para o país? Uma reforma estrutural que aponte para uma maior dinâmica socioeconómica: apoios à natalidade, melhoria das condições de trabalho, incremento de medidas desmotivadoras à reforma – como o aumento da idade legal para a reforma, ou a diminuição de remunerações por cada ano de adiantamento do pedido de reforma.
Ficam, assim, resumidos os 7 catalisadores da economia portuguesa, em função dos 7 fundamentais sectores a melhorar: (des)emprego, economias paralelas, balança comercial, educação, (des)construção civil, sector ambiental, sistema da segurança social.
Será este o caminho a seguir, que tanto busca o “Zé-povinho”? Cabe a si, leitor sombra, decidir.