O sonho de uma Europa unida, em termos económicos, nasceu da vontade de manter a paz. Após a II Guerra Mundial que deixou marcas profundas no mundo, a criação de uma estrutura com a qual os países europeus se identificassem foi a estratégia encontrada pelo velho continente para conter inimizades históricas. Todavia, este sentimento de união nunca foi, verdadeiramente, partilhado pela população europeia que sempre desconfiou da UE, facto que continua a minar a sua legitimidade.
Com os efeitos da crise a fazerem-se sentir, particularmente, nos países europeus com as contas públicas mais débeis (o recente caso do Chipre), este sentimento de inadequação e de pouca fé em torno da Europa têm aumentado e não apenas junto da massa popular. O prestígio do bloco europeu, como uma estrutura forte e coesa, também tem sido questionado pelos seus parceiros políticos, opinião pública e até investidores que duvidam do vigor e credibilidade de outros tempos, dando espaço a comparações.
Ola Wong, um jornalista sueco que vive na China, fez um retrato da Europa actual no artigo intitulado, “A Europa está como o Japão em 1860”, publicado no jornal sueco Svenska Dagbladet. Segundo o autor, a falta de credibilidade e autoridade por parte de Bruxelas e das altas instâncias da UE é paralela à situação vivida pelo Japão em 1860 antes de se modernizar e se tornar numa das grandes potências da sociedade contemporânea.
Na época, o Japão era um dos poucos países que ainda seguia a lógica feudal onde o poder estava nas mãos dos grandes senhores locais, proprietários da terra, que respondiam ao comandante supremo das forças armadas. No entanto, cada senhor governa as suas terras a seu belo prazer estabelecendo regras próprias, ignorando as directrizes do poder hierárquico superior. Assim, o retrato do Japão na segunda metade do século XIX encontra algumas semelhanças com a Europa de agora, em que os estados-membros (especialmente as economias do sul) não cumprem as medidas decretadas por Bruxelas, por se sentirem violados na sua soberania.
Identidade europeia versus a identidade nacional
Na génese da UE, o objectivo de unir as diferentes culturas e povos em torno da mesma instituição, trilhando um caminho e uma identidade comum, orientou os pensadores do projecto europeu e é nesta questão da identidade, da pertença à mesma ideologia que a instituição europeia tem encontrado as suas maiores barreiras. Se para resolver os problemas do Japão de 1860, um país fragmentado e atrasado, foi necessário forjar um sentimento nacional alimentado por uma causa comum, na Europa esse desafio assume proporções quase impossíveis de alcançar.
A tradição, os costumes e a história são traços profundamente enraizados na cultura de cada país europeu. O orgulho em pertencer a um determinado povo é uma característica muito presente no velho continente, onde a identidade nacional está acima de tudo. Ainda que, o lema da UE seja “ Unida na diversidade”, muitas das directrizes de Bruxelas são encaradas pelo povo como um ataque à identidade nacional e à soberania dos estados, o que dificulta o papel e a legitimidade da mesma.
A convergência para uma união politica tem sido a resposta dada pela UE que para ter mais autoridade precisa de retirar poder aos estados. É nesta concessão de poder que o conflito de identidades reaparece espelhando a fraca base de apoio da instituição europeia.