The Mauritanian: O Mauritano (2021) – Crítica

It doesn’t matter what we believe. What matters is what we can prove.

– Nancy

Este filme conta a história de Mohamedou Ould Slahi, um homem que luta pela sua liberdade depois de ficar detido durante vários anos pelo governo americano sem qualquer acusação formal, em crimes relacionados com o 11 de Setembro.

Este é um poderoso filme, com um poderoso retrato de uma justiça corrupta e de uma tendência cada vez mais publicitada de como a justiça americana trata os seus suspeitos como culpados antes de qualquer averiguação, sendo tudo baseado num caso real. O grande crime aqui passa a ser como a própria justiça, não conseguindo ter provas da acusação, trata apenas de arranjar formas de interrogatório e tortura para que hajam confissões. Outras grandes obras como “Making A Murderer” e “When They See Us” lidam também com este mesmo tema.

Tahar Rahim interpreta Slahi com imensa veracidade e consegue transmitir todas as emoções que queremos sentir da própria personagem. Desde medo, esperança, desilusão a terror, todo o espectro de sentimentos que atravessam o arco de Slahi é o tipo de papel que merece ser até galardoado pela sua competência.

O filme é um pouco longo (mais de 2 horas), mas sinto que obras que lidam com prisões ou tempo passado (principalmente de forma injusta) devem ser extensos para sentirmos o peso dos anos passados e aqui isso resulta muito bem. Dar uma palavra também para Jodie Foster e Shailene Woodley, que, como advogadas de Slahi, mostram o tipo de assertividade e de desconfiança certas para nos colocarmos no lugar delas e sentirmos o peso de tudo o que elas assistem. Parecem quase mais duas espectadoras na história do acusado e guiam as nossas emoções. Benedict Cumberbatch é um bom suporte a estas figuras centrais num papel com emoções e convicções mistas.

Um filme que recomendo com uma mensagem que cada vez mais é utilizada em filmes, mas que foi bem executada com ótimas interpretações e uma mensagem de liberdade e de justiça.

* CUIDADO COM SPOILERS *

Entre as cenas mais impactantes para mim estão as leituras sucessivas das personagens das advogadas que pareciam estar a “ver” as próprias cenas que nos eram mostradas em câmara quase como um flashback, o filme assume essa estrutura durante quase todo o filme.

Como disse, é um filme baseado num caso específico real e embora isto seja quase cliché nos dias de hoje, a verdade é que saber isso torna toda a experiência mais poderosa e o filme é muito gráfico nas várias formas de tortura que apresenta. O próprio final do filme é um murro no estômago por mostrar a quantidade de anos que foram literalmente roubados (14 anos mais especificamente) a um homem que nunca foi julgado e a quem nunca foi dado o benefício da dúvida. O filme mostra-nos imagens do verdadeiro Slahi já liberto e é um misto de emoções entre a felicidade de saber que ele foi liberto e a tristeza da quantidade de anos em que lhe foi privada uma liberdade merecida.

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