Recuemos. Não vos peço para recuar muito, basta que olhemos para dentro da casa dos nossos pais (quem quiser fazer o exercício de forma mais detalhada pode bater à porta de casa dos seus avós). O que vemos nós? Vemos uma mãe a preparar o jantar, a cuidar dos filhos, a tratar da casa aos fins de semana, ou nos dias de folga, a deixar a roupa engomada – e sem vincos – para o marido e a ser mulher no tempo que lhe sobra. E o homem? Bem, o homem também tem as suas tarefas. Distintas, porém. Pese, embora, a partilha dos afazeres domésticos (já) seja repartida por ambos, existem coisas que continuam a ser de competência exclusivamente masculina. O homem é quem leva o carro à oficina – mesmo que seja o carro da mulher –, o homem é quem gere as contas da casa, o homem é quem ensina os filhos a andar de bicicleta, o homem é quem arranja o autoclismo, o homem… que é homem não chora!
Ok. Já podemos sair de casa dos nossos pais (e dos nossos avós para quem foi mais arrojado). Entremos, agora, nas nossas casas. Ou na casa da nossa melhor amiga, ou do nosso primo. Tanto faz. Sintam-se à vontade para escolher. Entrem e instalem-se confortavelmente. Imaginemos que são oito da noite. Na primeira casa, a Joana (imaginemos que este é o nome da pessoa que habita a casa que escolhemos), às oito da noite, está a preparar uma salada rápida de salmão fumado com rúcula e cebolinho. A Joana tem quarenta e um anos. Não tem marido. Não casou por opção. Depois podemos entrar na casa do Marco. O Marco, às oito da noite, está a pôr a mesa. Acabou de fazer arroz branco e tem esperança que a mulher, directora financeira de uma multinacional, chegue antes do arroz arrefecer. A seguir, podemos espreitar a casa da Maria. A Maria dá os últimos retoques na maquilhagem, porque vai jantar fora. Aceitou o convite do Raúl para jantar, mas colocou a condição de que, desta vez, seria ela a pagar. O Raúl aceitou sem constrangimento.
O que há de errado nisto tudo? Porque é que as coisas terão mudado tanto, num tão curto lapso de tempo? Serão os homens menos homens? Serão as mulheres menos competentes para assumir as tarefas doutrora?
Na verdade, a meu ver, não há nada de errado nisto. Na verdade, o que me parece que está a acontecer, é que todos tomamos uma maior consciência de que a vida só acontece uma vez. E que a única tarefa que devemos executar eximiamente é a de sermos felizes. Seja de que maneira for. O nosso caminho não tem de ser igual ao dos demais e a nossa felicidade não tem de competir directamente com a de ninguém. Não percamos muito tempo com códigos e condutas que se tornaram obsoletos. (Já) não há homens da casa, mas, sim, homens na casa. Uma mulher (já) não espera por um homem para ser feliz, mas, sim, que um homem a acompanhe na sua felicidade.
A Joana não tem de casar só porque a sociedade, em tempos, assim o estipulou. O Marco não é menos homem por estar a preparar o jantar para a mulher e a Maria consciencializou-se de que o homem não tem de pagar sempre o jantar. Não foi a vida destas pessoas que mudou, foram estas pessoas que mudaram a forma de viver a vida. E não há nada de errado nisto.